por Suzana Barelli

Estive com Paul Pontallier, o diretor-técnico do Château Margaux falecido nesta semana, apenas uma vez. Degustamos o tinto da safra de 2004, que estava sendo apresentada en primeur naquela época, e depois ele abriu uma garrafa do 2001. A conversa, claro, girou sobre vinho, sobre a safra em Bordeaux e lembro que falamos também do seu vinho no Chile – até hoje o seu Sol de Sol é um dos meus brancos referência, que ele elabora com três sócios no país andino.

Depois ele nos ciceroneou (estava acompanhada do meu marido) pelo château, explicando sua filosofia para elaborar seus vinhos quando paramos na sala de barricas. Contou com alegria de sua visita ao Brasil – poucos anos antes, ele tinha vindo para cá participar de um encontro de vinhos único, que acontecia em Pedra Azul, na serra do Espírito Santo. Na despedida, mandou abraços a Jorge Lucki, seu amigo pessoal e uma das grandes referências do vinho aqui no Brasil.

Saí da visita impressionada com Paul Pontallier. Mesmo dirigindo um dos mais nobres châteaux franceses (ele chegou à vinícola em 1983, a convite de Corinne Mentzelopoulos, a proprietária, e em 1990 assumiu a direção geral), ele nos recebeu de uma maneira tão acolhedora. Gentil, elegante, ele foi tão atento às nossas perguntas, interessado em nossas opiniões, algo que, confesso, eu não esperava.

Desde então, passei a acompanhar ainda com mais atenção sua carreira. Naquela época, ele já tinha mais de 20 colheitas à frente deste château e já era o responsável por ter trazido, novamente, o Margaux ao rol dos grandes vinhos franceses depois de uma fase ruim na década de 1970. Já era dele a melhor definição entre força e brutalidade no vinho, quando se tenta definir o que é um vinho masculino e um feminino. O vinho encorpado, dizia ele, pode ser também elegante em sua potência. E fazia o estudo – ousado, talvez, para um grande château de Bordeaux – de envelhecer vinhos com tampas diferentes, da cortiça tradicional à tampa de rosca (screw cap) para avaliar qual a melhor vedação para um tinto de guarda.

Nos últimos tempos, Pontallier liderava a nova vinícola do Margaux, voltada para a elaboração de vinhos brancos, quando descobriu um câncer, que o levou no último domingo, dia 26, um mês antes de completar 60 anos.