26/08/2016 - 19:34
Por Suzana Barelli
Château de Haute-Serre 2009 e Château de Haute-Serre Icône WOW 2009. Os dois vinhos da foto acima formam as estrelas de uma degustação conduzida pelo italiano Vincenzo Protti, na sede da importadora Mistral, nessa sexta-feira. Os dois são tintos na vinícola Georges Vigouroux. elaborados com a uva malbec, em Cahors, cidade francesa relativamente próxima a Bordeaux e considerada o berço dessa cepa, que tanto sucesso faz na nossa vizinha Argentina. Protti é o representante da Georges Vigouroux no Brasil.
O primeiro tinto, elaborado também com 15% de merlot, tem um estilo, digamos, mais rústico. Nos aromas, traz notas de evolução, um couro bem presente, notas de madeira e pouca fruta. Seus taninos são mais nervosos, daqueles que ficam meio rugosos na língua. É um belo vinho, que pede comida pela sua boa acidez. Custa US$ 55,90.
O segundo tinto é quase o oposto e elaborado 100% com a malbec. Seus aromas são mais frutados, com um floral final bem interessante. No paladar, é encorpado como o primeiro, mas tem os taninos bem sedosos, macios, e é muito longevo – não é à toa que a vinícola o batizou de Wow. É mais extraído, por certo, mas tem muita complexidade. Custa quase inaceitáveis US$ 299,50.
Uma das diferenças entre os dois é que o segundo já conta com a consultoria de Paul Hobbs. Ele é o enólogo norte-americano que ganhou fama ao trabalhar com a malbec, no início da modernização da vinícola de Nicolás Catena. Hoje, Hobb é não apenas consultor da vinícola francesa, mas também elabora três malbec em parceria com a família Vigouroux.
Seria o primeiro a expressão do terroir de Cahors e o segundo, um tinto no estilo internacional? Na taça, pode-se chegar a essa conclusão. Ou o primeiro é um exemplo de um tinto elaborado ainda com menor conhecimento de como cuidar de uma uva no vinhedo – a poda e a colheita estão cheia de segredos. E também com menor conhecimento de como vinificar e amadurecer a malbec. Essa é também uma conclusão possível.
Não consigo, hoje, responder essa questão. De um lado, se a ideia é mesmo valorizar o terroir, o tinto deveria ser vinificado com leveduras indígenas, aquelas que estão no vinhedo, o que não acontece. Os dois tintos são vinificados com leveduras selecionadas. Em passagem pelo Brasil em julho, Paul Hobbs comentou que tinha muito o que mudar nos vinhedos de Cahors, desde a sua condução até a poda. Mas é preciso mudar sem perder a história.
Só sei que vale a pena acompanhar as safras futuras desses dois tintos. Cahors, apesar de uma região vitivinícola tradicional, está mudando muito nas últimas safras e surpresas podem vir por aí.