por Roberto Fonseca

Primeiro, as grandes cervejarias tentaram entrar no mercado artesanal, comprando pequenos produtores ou criando produtos específicos para o segmento, como rótulos da Bohemia e da Brahma Extra, por exemplo. Em ambos os casos, um dos trunfos da disputa foi praticar preços menores que a maioria das microcervejarias. Mas e quando ocorre o inverso?

A Blondine, de Itupeva (SP), anunciou uma nova linha de cervejas chamada Martina, com preços mais próximos aos praticados pelos grandes grupos cervejeiros em seus produtos premium. Nas versões Lager (dourada, de baixa fermentação), Witbier e IPA, a Martina custa entre R$ 6,75 e R$ 6,90 a garrafa de 310 ml e R$ 9,95 e R$ 11,90 a de 600 ml.

Meses antes, a paranaense Maniacs havia seguido o mesmo caminho, lançando no mercado os rótulos Pilsen e IPA, produzidos de forma terceirizada e que custam entre R$ 7 e R$ 9 (lata de 350 ml) em mercados da capital paulista. Ambas as marcas apostam nas gôndolas de supermercado – território original das “loiras geladas”, mas que viu um aumento de artesanais nos últimos anos –, como pontos principais de venda. “O mercado hoje pede mais qualidade por preço menor. Custo-benefício é a palavra-chave nesse caso”, afirma Sibele Xerfan, sócia da cervejaria. “Essas cervejas vão ocupar espaço de prateleira das grandes, tentar incomodar um pouco.”

As reações dos fãs de cerveja se dividiram entre elogios, por poderem pagar menos em um produto de microcervejaria, e críticas, pelo fato de as IPAs de ambas as marcas não seguirem padrões do estilo. “É uma cerveja feita para um mercado não acostumado com amargor, para um público que não espera e pode até se assustar com essa nota”, admite Sibele.

De fato, as IPAs da Maniacs e da linha Martina têm amargor bem mais contido que outros exemplares do estilo, apesar de notas perceptíveis de lúpulo no aroma e sabor. Nomenclaturas à parte, acabam sendo boas opções lupuladas com preço mais baixo. Provada fresca em setembro, a Martina Wit também tem uma boa relação custo-benefício. Já as Lagers de ambas as marcas, ao tentarem jogar no campo sensorial das “louras industriais” como a Heineken, não conseguem nem oferecer o mesmo valor final nem trazer um diferencial de receita que justifique o custo extra. A preços mais baixos ou mais altos, é a criatividade que faz as artesanais se destacarem no mercado.