26/04/2019 - 22:00
Por Cristiana Couto
A plataforma digital Made in Farm (madeinfarm.com.br) estreou no segundo semestre de 2017 e já promete novidades. O projeto – apoiado pela Rede AgroServices da Bayer – tem como objetivo conectar diretamente produtores e consumidores de cafés do Brasil, e gerar novos negócios. Desde maio, a plataforma ampliou a oferta de grãos e disponibilizou a compra de cafés pelo consumidor final (antes, estava restrita ao food service). “Decidimos trabalhar também com marcas mais comerciais”, explica Cristiane Lourenço, gerente de parcerias da Bayer e implementadora do projeto. Atualmente, a plataforma reúne 18 produtores, entre Minas Gerais e São Paulo. Economia compartilhada, procedência do produto e comércio justo são ideias que demoraram a chegar no País, mas cá estão. O produtor se cadastra, define o preço do seu café, disponibiliza a quantidade que deseja e conta a sua história. No segundo semestre, o Made in Farm começará a comercializar cafés verdes – o grão cru mas não torrado, que é como cafés são negociados em todo o mundo. Em tempo: os cafés vendidos aqui são de duas categorias: os especiais, que são grãos 100% arábica e cuja avaliação sensorial deve estar acima dos 80 pontos (de 100), e os gourmets, assim classificados pela indústria, que lhes atribui uma nota de qualidade global acima de 7,3 pontos (numa escala de 10) sem, necessariamente, determinar a espécie (arábica ou robusta) contida no blend.
Para estudar a fundo a cafeicultura nacional
Para celebrar os 18 anos de parceria entre a illycaffè e o Pensa (Centro de Conhecimento em Agronegócios) – programa de pesquisa do departamento de administração da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP) –, acaba de ser publicada uma coletânea de trabalhos científicos, a Pesquisa em Café. A união da torrefadora italiana e da faculdade da Universidade de São Paulo, denominada Università del Caffè Brazil, tem o objetivo de gerar e divulgar conhecimento sobre vários aspectos da cafeicultura nacional. Boa parte deles envolve tecnologia de campo e gerenciamento do negócio café, ambos focados na educação voltada à qualidade do grão para os cafeicultores brasileiros – só no país, a illycaffè compra café de cerca de 600 produtores. A obra volumosa traz artigos produzidos entre 2013 e 2017 e, a despeito da linguagem rigorosa de um artigo acadêmico, interessa a diversos atores da cadeia. Entre os assuntos, aquecimento global – tema candente na área –, estudos sobre a utilização de agrotóxicos, sobre comportamento do consumidor brasileiro (somos o segundo maior país no mundo a consumir a bebida) e desafios futuros. Esqueçam a falta de cuidado na padronização textual da obra – o conhecimento que ela traz é que é fundamental.
Pesquisa em Café – Università del Caffè Brazil (2013-2017) – Passavento (438 págs.) – em versão impressa (R$ 60, na tanlup.com) e digital (R$ 35, na amazon.com.br, em português e inglês)
Em defesa da diversidade alimentar brasileira
“Bom, limpo e justo.” A frase-síntese do movimento internacional Slow Food sobre o alimento cabe, nos dias de hoje, em contextos bem mais amplos. É o que o Brasil mais precisa, é do que ele mais padece. Uma postura política, no sentido lato, é, portanto, urgente. Voltando à comida, uma miríade de termos, muitas vezes gastos em mídias variadas, poderiam ser elencados para justificar a importância de publicações como A Arca do Gosto no Brasil – Alimentos, Conhecimentos e Histórias do Patrimônio Gastronômico, lançada no final de 2017. O compêndio é um dos frutos de uma parceria entre poder público, a entidade (fundada nos anos 1980 pelo jornalista italiano Carlo Petrini), e a academia, que reúne 200 produtos brasileiros que correm risco de extinção biológica ou cultural. Jacatupé, maturi, trigo-veadeiro ou manuê são preparos ou matérias-primas alimentares de que poucos, pouquíssimos de nós, ouvimos falar. Num espaço pequeno para a grandeza de cada um desses frutos da diversidade brasileira (somente 2 páginas, com delicada ilustração), são documentadas a área de produção de cada um, as técnicas envolvidas em seu preparo ou extração, a importância para a comunidade local, os usos e os motivos para sua preservação. Não dá para não ler. Depois, não há como não pensar.
A Arca do Gosto no Brasil – Alimentos, Conhecimentos e Histórias do Patrimônio Gastronômico (Slow Food Editore, 440 págs.) – R$ 50 (compras pelo contato@slowfoodbrasil.com)