Por Suzana Barelli, de Vézelay

Vinho é cultura, ao menos na França. Se é que havia alguma dúvida disso, a certeza vem com a festa de Saint Vincent, ou São Vicente de Zaragoza, o padroeiro dos vinhateiros. Na Borgonha, todos os anos, no final de semana depois de 22 de janeiro, que é o dia do padroeiro, se comemora a festa de Saint Vincent. Neste ano, a festa ocorreu em Vézelay, no norte desta região vinícola, neste último final de semana.

Há mais de 70 anos, a festa ocorre nesta data, em um dos vilarejos locais. Em 2020, vale colocar na agenda, será em Gevrey- Chambertim. E todos os anos a cidade escolhida se prepara para os festejos, decorando as casas com flores e imagens relativas às uvas e os vinhos. As comemorações começam na manhã bem cedo de sábado, com uma procissão, que passa pelos vinhedos. Cada vilarejo leva a sua imagem do santo nesta romaria, alguns se fantasiam com as roupas de suas confrarias. O cortejo segue animado até a igreja principal da cidade. Em Vézelay, que faz parte da rota francesa do Caminho de Compostela, a basílica fica no alto de uma colina, o que testa também o preparo físico dos vinhateiros.

As imagens de São Vicente são colocadas no altar, e a missa começa, celebrada por um bispo e vários padres. Na homilia, o celebrante faz uma emocionante pregação, comparando a vida do homem à da vinha, dos cuidados que a planta precisa, do respeito, de sua importância. E agradece a Deus pelo ano em pela safra que virá. Até no altar, e não apenas na consagração cristã do vinho em sangue, o vinho é parte da cultura francesa.

Terminada à missa, a festa vira profana. Confrades passeiam pelas ruas, há animadas bandinhas de música desfilando por suas subidas e descidas, comida de rua, com muitas salchichas e demais embutidos, vendidas no local. O vinho, claro, é bem presente, mas há um controle na venda dos tíquetes que dão direito a cada dose para evitar que as pessoas passem dos limites.

E como Vézelay é uma região de vinhos branco, é o chardonnay que é vendido nas taças, mesmo com a temperatura beirando o zero grau. Porque no país que respira vinho, branco também é uma bebida de inverno.

Suzana Barelli está na Borgonha a convite da Anima Vinum e da Anima Vinum Brasil