Por Romeu e Julieta 

Para quem acha que a crise anda abalando o mercado hoteleiro, repensa ao entrar no novíssimo Four Seasons São Paulo, o primeiro da rede canadense a abrir no Brasil. O arranha-céu, com 29 andares e 258 quartos e 84 residências, é mais um hotel às margens do rio Pinheiros, agora no bairro da Chácara Santo Antônio, na zona sul paulistana. O alto investimento do grupo nota-se nas instalações luxuosas, com esculturas de Francisco Brennand e pintura de Burle Marx.

E não seria diferente no Neto, restaurante no térreo do hotel, que Julieta e eu, Romeu, fomos visitar.

Uma entrada à parte do lobby reforça que o Neto não é voltado somente para hóspedes. “Imagino que queiram atrair clientes da região, já que há poucas opções no bairro”, sugeriu Julieta. Atributos não faltam para tal: o ambiente é o que causa o primeiro impacto positivo, com ares modernos e extremamente elegante, deixando de lado o ar impessoal que muitos restaurantes de hotel costumam ter. Para curtir esse clima, até demoramos para ir à mesa e começamos nossa refeição na espera, em poltronas confortáveis e mesas baixas, com bela vista para a vitrine de queijos e embutidos e a cozinha aberta. De lá víamos a movimentação de Paolo Lavezzini, italiano que foi anteriormente chef do Fasano Al Mare, no Rio de Janeiro, e tornou-se chef executivo do Four Seasons.

A Itália, aliás, é a base do cardápio do Neto – o nome é também uma homenagem aos netos de imigrantes do país europeu, que adotaram a capital paulista. Mas o “recheio” é de ingredientes brasileiros, privilegiando produtos locais. E o toque criativo vem das mãos de Lavezzini.

É o que vimos nas entradas, que decidimos dividir: o lagostim servido com purê de couve-flor, pistache e lardo, acompanhado de tucupi, que vem à mesa para o cliente colocar no prato (R$ 50), mostrou ousadia do chef – pena que o crustáceo tenha ficado muito mole, desmanchando na boca. Também criativo foi o shiitake assado com purê de nabo e nabo em fatias, e pedaços de bochecha de porco curada (R$ 50). “Mas o nabo, amargo, se sobressaiu muito, roubou a cena”, avaliou minha parceira.

Os pratos principais continuaram na mesma toada. A bottarga (ovas de tainha curada) foi essencial para levantar o sabor do tagliolini de feijão-preto com azeite com alho e pimenta-de-bode (bem discreto) e couve-manteiga (R$ 75), prato de Julieta. “A textura da massa é bem elástica, algo que me incomodou. E a couve poderia ser mais crocante”, completou. Na minha escolha, a nota cítrica do limão desidratado fez diferença no correto prato de fregola (massa de semolina pequena como um grão) com pedaços de polvo, linguiça e aspargos (R$ 80), com toque apimentado

PreviousNext

No quesito bebidas, vale provar a carta de drinques: tanto o barocco (uísque, vermut de Jerez, mel de abelhas nativas e grapefruit, R$ 38) quanto o giuseppe smash (gim, vodca com pera, manjericão, pepino, aipo, cítricos e gengibre,
R$ 38) eram equilibrados no álcool e bem agradáveis. Só Julieta que reclamou da doçura acentuada do barocco.

Fechamos o jantar com o bombolone com creme de confeiteiro, cumaru e calda de maracujá (R$ 32), que proporcionou uma combinação feliz de sabores, apesar de a massa estar seca. Entre altos e baixos do jantar, considerando também os altos preços, sinto que não é hora de retornar ao Neto. “Mas conhecendo o talento de Lavezzini, eu daria um voto de confiança e voltaria para conferir se a execução está mais azeitada”, amenizou Julieta.

O chef italiano Paolo Lavezzini

Neto
avenida das Nações Unidas, 14.401, Four Seasons São Paulo Nações Unidas – Chácara Santo Antônio
(11) 2526-0100 – São Paulo – SP
fourseasons.com/saopaulo