por Iara Siqueira, especial para a Menu

Em dia de chuva, no café da tarde, em reuniões de família ou no encontro com os amigos, sempre tem virado de banana. O doce é feito pela maioria da população de Cambuí, no Sul de Minas Gerais, há mais de cem anos. A receita na ponta da língua é feita desde crianças até os mais velhos.

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Mas se engana quem pensa que a iguaria é divulgada e vendida aos quatro ventos. Os mineiros preferem guardar esse segredo gastronômico e fazê-lo somente em casa. Portanto, se você receber um convite para comer o tal virado, sinta-se lisonjeado. Significa que o hospedeiro foi com a sua cara, e quer dividir o “ouro guardado” com você.

O virado rende longos dedos de prosa com os moradores entusiasmados. Ele pode ser acompanhado de um cafezinho, servido puro, com mais ou menos farinha de milho, uma pitada de canela e queijo. Há quem prefira o doce feito pela mãe, pela avó, não importa. Toda hora é hora de virado.

Simples e rápido de preparar (5 minutos, depois que todos os ingredientes forem separados), não há registros que comprovem sua origem. De acordo com as pesquisas feitas pela bibliotecária aposentada Bea Fanucci, o prato foi trazido pelos tropeiros, que comiam a mistura de banana (abundante na região) com queijo e farinha. Além de sustentar, demorava para estragar, uma vantagem para as longas viagens dos exploradores.

Em 2006, Bea sugeriu o reconhecimento oficial da receita. “Há 50 km daqui, até se vê falar do virado de banana, mas tem lugar que o povo nem conhece. Tenho certeza que Cambuí é a terra do virado (de banana)”, gaba-se. O esforço fez com que a guloseima entrasse para o livro de patentes do Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Igual mas diferente
Cada cambuiense tem seus segredos para fazer a receita, o que cria uma rivalidade entre os moradores e viradeiras, quando o assunto é o melhor virado. A disputa é acirrada e tem até concurso. Tem virado com leite (para não dar queimação) ou com uma pitada de gordura de porco.

Maria Conceição Nunes de Paiva, a Dona Conceição, por exemplo, conta que herdou a receita da bisavó, e faz o doce com açúcar mascavo. Segundo ela não pode ficar muito tempo no fogo, tem que ficar no ponto, nem muito seco nem muito mole. “A banana boa pra fazer é a nanica,” ensina.

Já a viradeira Leontina Marques dá outra dica para o doce não queimar. “Tem que colocar a farinha e o queijo pouco a pouco”, explica. Outro truque da especialista está na ponta dos dedos: uma pitadinha de sal e um pouquinho de leite. O queijo também faz toda a diferença no sabor e no visual do doce. “Tem que puxar e virar uma fita”, destaca.

Dona Leontina, como é conhecida, garante que não tem virado igual ao seu na cidade. Netos, bisnetos, filhos e parentes próximos ligam para ela com frequência fazendo a mesma pergunta: “Tem banana pra fazer virado?” Motivo de orgulho para a especialista no virado de banana. A seguir, confira como fazer a receita oficial da iguaria.

Virado de Banana

por Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais

Ingredientes
– 4 colheres (sopa) de manteiga
– 6 bananas nanicas bem maduras, picadas em rodelas
– 5 colheres (sopa) de açúcar
– 150 gramas de queijo mineiro meia cura, picado em cubos

Para servir
– 3 colheres cheias (sopa) de farinha de milho

Preparo
1) Coloque a manteiga na panela e deixe esquentar um pouco.
2) Acrescente as bananas e frite por 5 minutos, sem deixar que as bananas se desmanchem totalmente.
3) Adicione o açúcar e o queijo e mexa devagar até o queijo derreter

Para servir
Acrescente a farinha, misture bem e sirva bem quente. Se quiser, coloque 1 colher (chá) de canela em pó.

Rendimento: 4 porções
Preparo: 15 minutos
Execução: fácil