02/07/2013 - 13:27
por Suzana Barelli
Diz a teoria que os grandes vinhos brancos, quando envelhecem, ganham notas mais oxidativas, lembrando frutas secas, e sua cor “escurece”, tornando-se âmbar. Mas o que pensar de um vinho elaborado apenas com a branca sémillon que, quase sete décadas depois, lembra um jerez?
A evolução deste vinho é um dos (bons) mistérios de Baco. O branco em questão, degustado no evento Wines of Argentina, em São Paulo, é um achado da família Pescarmona, que comprou a vinícola Lagarde, em 1975. Ao conferir o estoque da vinícola, anos depois da aquisição da bodega, os novos donos encontraram um barril de 1.800 litros com um sémillon da safra de 1942. Ao provar o vinho, nova surpresa – a bebida que envelhecia na cuba de carvalho de Nancy vinha ganhando não apenas as notas oxidativas, mas também nuances minerais, quase salgadas, com boa complexidade e acidez.
A decisão foi engarrafar o vinho, em 1990, e deste então apresentá-lo em alguns eventos especiais. Das mais de 1 mil garrafas, restam pouco mais de 50, que não são vendidas, apenas presenteadas pela família Pescarmona. A barrica esquecida foi elaborada, na época, para suavizar o então mais tânico e rústico malbec e ajudar a estabilizar a cor do vinho. A mistura de pequenas porcentagens de vinho branco nos tintos era prática comum no início do século passado. Segue a mesma lógica dos tintos do Rhône francês, que ganham um toque de viognier no potente syrah.
Depois da descoberta, os enólogos da Lagarde até tentaram repetir o vinho. Mas desistiram porque a sémillon não amadurece bem como vinho varietal (elaborado apenas com uma uva). E, assim, segue o mistério de que, por qual razão, o sémillon de 1942 envelheceu tão bem.