12/03/2014 - 15:07
Por Suzana Barelli
Alexander Moraes, o rapaz de terno e gravata na foto acima, é o melhor sommelier de cerveja do Brasil. Ele venceu, no último domingo, os outros quatro finalistas da primeira edição do Campeonato Brasileiro de Beer Sommelier, promovido pela Associação Brasileira de Sommelier – São Paulo (ABS-SP) em parceria com o Instituto da Cerveja.
Moraes ganhou porque fez o melhor serviço da bebida na grande final. Claro que ele sabe muito sobre o tema, caso contrário, não teria vencido os demais 97 inscritos para a competição – um número recorde, se lembramos que os primeiros cursos de formação para sommelier de cerveja surgiram em 2010, por aqui. Um exemplo foi um cardiologista, que foi o melhor na primeira fase: acertou 66 das 70 questões de múltipla escolha na manhã de sábado. Mas foi desclassificado na prova da tarde, quando os 30 melhores da prova da manhã tinham de reconhecer, na taça, seis estilos de cerveja. Ou seja, só o conhecimento teórico não faz um sommelier.
No domingo, dia da grande final, os cinco candidatos, classificados pela degustação do sábado a tarde, tinham de passar por três provas, no tempo cronometrado de 20 minutos. Na primeira, deveriam reconhecer o estilo de uma cerveja – era uma Tap 6, do estilo doppelbock, que ninguém acertou – e responder três perguntas. Numa delas, sobre a origem do nome bock, Alexandre Bazzo deu um show, contado da cidade que deu origem e também das lendas.
Depois, eles tinham de fazer o serviço da cerveja para quatro convivas – e eu era uma delas. A nós quatro, cabia fazer perguntas sobre harmonização e também sobre algumas curiosidades deste universo. Uma das minhas perguntas era sobre a rolha na cerveja – sim, a Chimay escolhida tinha rolha.
Nesta fase, apareceu a única pegadinha do concurso: uma taça suja de batom. Moraes foi o único que notou a sujeira antes de colocar as taças na mesa. Dois dos finalistas nem se deram conta do erro; os outros dois perceberam quando o serviço já estava adiantado. Moraes também foi o único que mostrou a rolha para à mesa, numa prática comum no mundo do vinho e ainda sem literatura no mundo da cerveja, e que não fez muito barulho ao tirar a rolha da garrafa. Aqui, os finalistas achavam que todo o salão tem de saber que a mesa pediu uma cerveja fechada com rolha de cortiça, tamanho o estardalhaço.
Na prática, apesar de mais formal do que os demais, o vencedor soube servir bem a bebida, sugerir as cervejas corretas a partir dos pratos escolhidos. Antes de entrar na prova, cada candidato tinha 20 minutos para estudar o cardápio e a carta de cervejas. Moraes soube falar do estilo da cerveja para cada prato (o que todos os jurados fizeram), mas também indicar a marca da cerveja que poderíamos pedir (o que poucos fizeram). Muitos se limitaram ao estilo que combinaria com as nossas escolhas, sem indicar que marca poderíamos encontrar no cardápio, algo impensável para o consumidor.
Na última fase, eles tinham de fazer o serviço de mais uma cerveja, agora para a plateia. Chamou a atenção que nenhum deles mostrou o rótulo para o público, que lotou o auditório da ABS-SP na manhã de domingo. Depois das cinco apresentações, o júri se reuniu para somar os pontos de todas as provas. O resultado foi, pela ordem: Alexander Moraes, Fábio de Faria Campos, Luís Celso Jr., Alexandre Bazzo e Rosaria Penz.
Terminada a premiação, fica a questão: o que devemos esperar de um sommelier de cerveja. Mais formal, como no vinho? Descontraído? Cioso no momento de oferecer a bebida e servi-la à mesa? “É um caminho que ainda estamos construindo”, responde Mario Telles Jr, presidente da ABS-SP. E o campeão Moraes tem de decidir se vai transformar seu hobby em profissão: a cerveja é sua paixão e, nas férias, ele visita cervejarias pelo mundo. Sua próxima visita será na Cervejaria Brooklyn – como vencedor, ele ganhou uma viagem para Nova York para conhecer esta cervejaria.