18/08/2014 - 12:43
Por Suzana Barelli
Vez ou outra, os enólogos propõem o interessante exercício de elaborar o blend de um vinho para os jornalistas e demais formadores de opinião. Na ideia de explicar um pouco mais sobre como é o trabalho de elaborar brancos e tintos, os enólogos disponibilizam toda a matéria prima para esta lição: desde os lotes de vinhos que darão origem à bebida final até as ferramentas necessárias, que mais lembram um laboratório, como as pipetas e os tubos de ensaio. Aos alunos, cabe misturar estes vinhos nas mais diversas porcentagens até obter uma bebida final. É assim que os blends são feitos nas vinícolas, em geral com uma amostra bem maior de vinhos.
Na semana passada, Rodrigo Zamerano, enólogo da chilena Caliterra, aproveitou o lançamento da linha Edicíon Limitada (R$ 88, na importadora Decanter) para desafiar os presentes a elaborar um tinto que tivesse notas de frutas vermelhas e florais, um leve toque de madeira, taninos redondos e boa persistência. Cada grupo recebeu os três vinhos que deveriam ser misturados para chegar ao blend final: um shiraz, um carmenère e um cabernet sauvignon, que são a base do Edicíon Limitada, que acabara de ser degustado. No final, Zamerano provou os vinhos e decidiu qual melhor respondia ao estilo pedido.
Não é a primeira vez que eu misturo vinhos recém fermentados, ou recém amadurecidos em barricas de carvalho, para chegar ao meu vinho. E sempre termino a brincadeira valorizando muito o trabalho destes profissionais – o meu vinho, avalio eu, é sempre um desastre. Simplesmente não é fácil imaginar como a mistura de amostras diferentes, em geral bons vinhos, pode gerar uma bebida muito mais interessante. Muitas vezes, são vinhos da mesma uva, mas plantadas em vinhedos diferentes, ou mesclas que passaram por barricas de carvalho e outras não. A alquimia é juntar os melhores lotes em proporções diversas e obter uma bebida melhor e mais complexa do que o vinho varietal, como é chamado aquele elaborado com uma única variedade (aqui, um varietal pode ser um blend da mesma uva de vários vinhedos, mas isso é outro assunto). Definitivamente, não é fácil.
Mas desta vez, até que não me sai muito mal. Fiz dupla com Edson Hermann, diretor da importadora Decanter, e que vem aprendendo muito sobre blends com Anselmo Mendes, o enólogo consultor português que assessora o projeto vinícola dos Hermann aqui no Brasil. Nosso vinho tinha uma base maior de carmenère – na verdade, tanto Edson como eu havíamos adorado o carmenère da Caliterra. Depois, mesclamos partes iguais de shiraz e de cabernet sauvignon.
No final, ao nos devolver o vinho, Zamerano comentou que tinha sido a mescla mais elegante entre todos os blends, um elogio que soou como música aos meus ouvidos. Mas não fomos os vencedores. “Na descrição, o vinho deveria ter um toque floral mais pronunciado, que o seu não tinha”, explicou o enólogo. Não passei no exercício, mas, pela primeira vez, saí satisfeita.