17/11/2022 - 15:22
O que motivou os primeiros humanos a cozinhar? E como consumir alimentos cozidos contribuiu para a nossa evolução enquanto espécie?
Essas são perguntas que os pesquisadores das origens humanas vêm se fazendo há anos, e cada vez mais as descobertas indicam que a importância de consumir comidas que passaram pelo fogo vai muito além de questões nutricionais. Uma reportagem publicada na CNN, e citada pelo Tasting Table, dá algumas pistas sobre isso, e mostra que os primeiros humanos tinham que gastar muito tempo e energia buscando comida fresca – e que, a partir da descoberta do fogo e da cocção – eles puderam “desenvolver novos sistemas sociais e comportamentais”.
Para os hominídeos do passado, a descoberta do fogo permitiu também que o dia pudesse se estender por algumas horas, já que trazia luz e calor em meio à escuridão, ajudando na defesa daquelas pequenas comunidades. E, no que concerne ao ato de cozinhar, o fogo ajudou os humanos a consumir comidas mais seguras, e até a armazená-las, boas para consumo, por mais tempo.
Uma nova descoberta em Israel trouxe mais pistas para essas teorias. Um time internacional de cientistas trabalhando perto do Mar Morto afirmou ter encontrado as evidências mais antigas de prática culinária pelos humanos pré-históricos, no sítio arqueológico de Gesher Benot Ya’aqov. Ali, os pesquisadores encontraram fósseis de um peixe parecido com um ancestral da carpa, que exibiam sinais específicos de que foram cozidos – há 780 mil anos!
De acordo com o site Science Alert, a descoberta recente não é a evidência mais antiga de uso controlado do fogo por humanos, mas é a mais antiga encontrada na Eurásia. Na África, sítios arqueológicos que encontraram vestígios do Homo Erectus datam de pelo menos 1,5 milhões de anos, e contêm carvão e ossos queimados.
Cozinhando há bastante tempo
Segundo artigo publicado na plataforma científica PubMed, encontrar vestígios de prática culinária que remontam a 780 mil anos é uma mudança considerável na linha do tempo, pois acreditava-se que as primeiras evidências de prática culinária datavam de 170 mil anos atrás.
A questão mais interessante é que, de acordo com essas novas descobertas, os pesquisadores foram capazes de distinguir se um alimento foi, de fato, cozido e consumido, ou se foi simplesmente atirado ao fogo. Eles descobriram carcaças de peixes e a análise dos dentes dos pescados encontrados pelos pesquisadores revelou que o esmalte dentário apresentava uma certa mudança, que tipicamente ocorre quando é exposto a mudanças de temperatura. As pesquisas são ainda mais específicas e mostram até a temperatura exata em que o peixe foi cozido, entre 200°C e 500°C, de acordo com a CNN.
Essa faixa de temperatura, em particular, revela que “eles [os peixes] não foram cozidos diretamente no fogo e também não foram simplesmente descartados na fogueira ou usados como combustível”, afirma Jens Najorka, gerente de laboratório de radiografias no Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra, que participou do estudo.
Mais carne, mais cérebro
Outras análises dos dentes dos vestígios dos pescados encontrados no sítio arqueológico Gesher Benot Ya’aqov revelaram também que os peixes faziam parte da dieta comum do Homo erectus. Ou seja, o consumo de pescados não era sazonal ou uma guloseima rara, como se poderia supor.
De acordo com os arqueólogos que trabalharam no local, a composição geoquímica do esmalte dentário dos animais revelou a época do ano em que os peixes morreram, e, para surpresa do time, os pescados eram consumidos o ano todo.
O acesso regular a proteínas, como no caso do consumo de peixes pelo Homo erectus, contribuiu para o aumento do cérebro desses primeiros humanos, segundo a CNN.
Fósseis humanos não foram encontrados nesse sítio arqueológico, mas havia por lá ferramentas de pedra que eram similares às usadas pelo Homo erectus na África do Sul.
“Esta é uma descoberta inacreditavelmente importante”, afirmou Bethan Linscott. Ela não estava pessoalmente envolvida nesse estudo, mas acredita que “isso vai impactar enormemente na comunidade científica”.