16/02/2023 - 16:18
Entre 2010 e 2019, os países da União Europeia importaram 40,7 milhões de quilos de pernas de rãs, o a cerca de dois bilhões de rãs. A maioria dos animais é proveniente de países como Indonésia, Albânia e Turquia, segundo reportagem do site Euronews. Aparentemente, o apetite insaciável da Europa por rãs está dizimando as populações locais nesses países, de acodo com relatório publicado na revista Nature Conservation.
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“Pedimos aos países [exportadores] e seus governos que assumam a responsabilidade pela sustentabilidade do comércio”, escreveram os autores do documento. “A União Europeia (UE) deve tomar medidas imediatas para canalizar todas as importações por meio de um único banco de dados centralizado e listar espécies sensíveis nos anexos do Regulamento do Comércio de Vida Selvagem da UE.”
Diz-se que o gosto pelas perninhas de rã começou com os monges do século 12, que passaram a comer os anfíbios – considerados pela igreja, na época, como peixes – para contornar uma dieta rigorosa sem carnes vermelhas. As rãs também são iguarias gastronômicas também em outras partes do mundo, como Vietnã e China.
Na UE, a Bélgica é, de longe, o principal importador de pernas de rã: foram 28.430 toneladas entre 2010 e 2019. Mas o país reexporta cerca de três quartos disso para a França. A França, por sua vez, importa 6.790 toneladas de fora da UE, seguida pela Holanda, com 2.620 toneladas; Itália, com 1.790 toneladas; e Espanha, com 923,4 toneladas.
Impacto no meio ambiente
Como se tem discutido muito recentemente, os ingredientes usados na culinária têm um custo, e não é apenas monetário. As autoridades francesas proibiram a caça comercial local de rãs – com exceções – já na década de 1980, depois que o número de espécies diminuiu drasticamente.
Agora, 80% da demanda de rãs da Europa é suprida pela Indonésia – e o mesmo padrão está se repetindo, colocando os animais em risco. A rã-caranguejeira (Fejervarya cancrivora), a rã gigante de Java (Limnonectes macrodon) e a rã-touro do Leste Asiático (Hoplobatrachus rugulosus) são vulneráveis a uma potencial caça excessiva, segundo o relatório.
Na Turquia, o Pelophylax caralitanus – comumente conhecido como sapo da Anatólia – está em “alto risco de extinção”.
“A superexploração [desta espécie] para o comércio de pernas de rã na França, Itália e Suíça causou seu rápido declínio, de modo que a espécie agora é considerada ameaçada de extinção”, alerta o relatório.
O declínio tem um efeito indireto nos ecossistemas locais. Rãs atacam insetos. Nas áreas onde os anfíbios são caçados, disseram os pesquisadores, o uso de pesticidas tóxicos tende a aumentar.
Como proteger as rãs da superexploração
Nas décadas de 1970 e 1980, Índia e Bangladesh eram os principais fornecedores de rãs da UE – mas os governos desses países pararam de exportar depois que as populações locais dos anfíbios diminuíram.
Para garantir que o comércio permaneça sustentável, os pesquisadores pedem aos países exportadores de rãs que regulem o comércio com mais rigor. Eles também pediram à UE que publique mais informações sobre o comércio.
Alguns veganos francófilos empreendedores também inventaram pernas de rã à base de plantas, feitas de trigo e soja.