06/03/2015 - 18:31
Por Suzana Barelli
Quem me acompanha por aqui, sabe que em fevereiro eu tive a oportunidade de degustar quase 300 vinhos na companhia apenas de mulheres. Foi na 9a edição do Argentina Wine Awards, que neste ano reuniu em Mendoza somente experts femininas como juradas do concurso. Foram muitos os aprendizados de degustar neste clube da Luluzinha, que de Luluzinha propriamente dita não tinha nada. Estávamos todas lá pelo vinho e este foi o nosso tema principal – destacar uma acidez a mais, elogiar um frescor em uma taça e discutir sobre que nota vale um tinto em seu estilo mais potente ou mais elegante foram o objeto maior de nosso trabalho.
Cheguei ao evento com a ideia de descobrir se homens e mulheres degustam de maneira diversa ou não. Confesso que antes do concurso começar, eu achava que as diferenças de gênero eram poucas. Talvez por estar acostumada a degustar com homens – tenho uma confraria que até me apelidaram de “o menino”, por eu ser a única mulher. Tecnicamente acho que são poucas as diferenças na degustação: somos todos profissionais capacitados, que sabemos reconhecer as qualidades e os defeitos de cada vinho.
Como se para me dar mais argumentos sobre mulheres e vinho, ainda tive a sorte de estar no trio de juradas formado por ninguém menos que a inglesa Jancis Robinson MW, que dispensa apresentações e esbanja simpatia, e pela querida sommelier argentina Marina Beltrame. Jancis – e aqui faço um parêntese – foi uma mulher magnânima. Estava sempre disposta a discutir os vinhos, a prestar atenção em nossas opiniões. Não raro ela voltou a uma outra taça a partir de um comentário nosso. Será que uma referência masculina nos vinhos teria o mesmo comportamento? Eu acho que sim, que isso depende mais da personalidade da pessoa do que de ser homem ou mulher.
O fato é que terminei o concurso achando que as mulheres sim degustam diferente. O resultado do evento indica que devemos ser mais severas ou exigentes, já que foram concedidas um número menor de medalhas em comparação com as edições anteriores. Mas isso pode ser também uma coincidência, já que esta foi a primeira avaliação feminina dos vinhos argentinos e não há base de comparação. Na discussão de cada amostra, durante o concurso, acho que as mulheres são mais detalhistas e querem entender da sua maneira a sutileza do vinho. E isso é diferente do universo masculino.
Um pouco desta discussão está na reportagem “Quadro de Medalhas”, publicada na edição de março da Menu, que está chegando às bancas nesta semana. E é com esta reportagem que eu quero lembrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado neste domingo. E, claro, homenagear as mulheres do nosso mundo. Afinal, se hoje é possível discutir se há diferenças entre homens e mulheres no mundo do vinho é porque muitas mulheres (e homens também) abriram espaço para isso.