02/10/2025 - 20:53
Ser sommelier de água pode soar, à primeira vista, como uma excentricidade — afinal, a profissão é conhecida por ter exímios especialistas em vinhos ou cervejas como representantes. No entanto, o posto de “conhecedor” se expande para além da enologia e tem se firmado no setor de águas — com representantes brasileiros certificados internacionalmente.
Um deles é o mineiro Rodrigo Rezende, publicitário de formação que se especializou na análise e harmonização de águas minerais. Depois de atuar por anos no marketing da Água Mineral Viva, em Itaúna — a cerca de 80 km de Belo Horizonte (MG) —, ele se tornou o primeiro sommelier de água do Brasil com certificação internacional.
Em entrevista à Revista Menu, Rezende conta que tinha certificado de especialista em vinhos quando começou a trabalhar com marketing na fonte da Água Mineral Viva, de Itaúna (MG), cidade próxima à capital mineira. Foi quando descobriu o pesquisador Michael Mascha, dono da empresa Fine Waters.
“Quando eu fiz contato, em 2018, ele estava se juntando a Martin Riese, um alemão que é referência no mundo. Os dois fizeram a primeira turma da Fine Water Academy, da qual eu fiz parte e onde eu me certifiquei”, relata.
Atualmente, Rodrigo atua no setor de alimentação e faz palestras, além de seguir com a publicidade e propaganda. O publicitário conta que trabalha frequentemente em cursos para certificação de sommeliers de vinhos e cervejas, atuando principalmente com escolas e com a ABS (Associação Brasileira de Sommeliers). Nos cursos de vinho, explica quais águas utilizar durante harmonizações. Já no de cervejas, ensina como selecionar o melhor rótulo para a produção da bebida.
O ‘mito do pH’
Segundo o especialista, dois mitos cercam o universo da água mineral. O primeiro é a busca por rótulos de produtos que indiquem “zero de sódio”: “É como procurar uma banana com zero de potássio. O sódio da água é natural”, explica. A substância está presente em diferentes níveis de mineralização e não representa, por si só, um risco.
Outro ponto frequentemente mal interpretado é o pH. Para o especialista, a compra de garrafas e filtros que prometem “alcalinizar” a água e trazer benefícios à saúde é um equívoco: “A água da torneira já é alcalina. Vender garrafinha com cristais para alcalinizar água é charlatanismo”, critica.
Para sommeliers de água, o mais importante é a mineralidade — o “resíduo de evaporação” dos rótulos das garrafas.
Por ser proveniente de uma região geológica particular, cada água mineral apresenta um diferente teor de mineralidade, representado pela sigla internacional TDS — no português, “total de sólidos dissolvidos”. Esse é o principal critério de avaliação de competições internacionais de água.
É analisando o TDS, por exemplo, que um sommelier sabe com qual tipo de vinho harmonizar cada rótulo de água.
“Águas com mineralidade mais baixa harmonizam com espumantes, vinhos brancos, comidas mais leves, saladas e sopas. Aí você vem aumentando a intensidade — é igualzinho ao vinho”, diz Rodrigo.

Água é tudo igual?
Para o sommelier, a diferença entre os produtos se torna clara quando o consumidor aceita prová-las. A comparação entre uma água mineral de fonte natural com a da torneira, por exemplo, mostra contrastes imediatos, sobretudo pelo cloro — considerado o maior inimigo de qualquer degustador, segundo Rezende.
Quando questionado sobre a existência de uma água mineral “coringa”, que possa ser usada em qualquer situação, ele é enfático: “Muita gente me pergunta isso e eu devolvo: existe algum vinho coringa? Não. Então não existe água coringa”.
“Em um jantar de sete tempos de um chef super estrelado, você não tem sete vinhos diferentes? Então por que que eu não posso ter sete águas diferentes?”, questiona.
Como identificar o perfil de cada água
Para o especialista, só existe um caminho para quem deseja aprender sobre águas: o estudo. “Ou seja, esse trabalho que eu faço com as ABSs de educar os sommeliers de todos os outros setores é, de certa forma, educar o consumidor”, finaliza.