17/03/2016 - 10:00
por Pedro Marques*
Pode-se dizer que o economista português Duval Pestana é um restaurateur improvável. Depois de dedicar-se por anos a uma carreira bem sucedida em companhias multinacionais, Pestana se aposentou e abriu seu primeiro restaurante, o Faz Gostos, na cidade de Olhão (Portugal), em 2004. O negócio prosperou e a partir daí outras casas surgiram na terrinha: uma filial do Faz Gostos, em Lisboa; o Tacho à Mesa, dedicado a petiscos portugueses; e o Oui, Moules & Huîtres, especializado em mexilhões e ostras.
Embora tudo estivesse bem em sua terra natal, um imprevisto aconteceu: o empresário português se apaixonou pelo Brasil e decidiu vir para São Paulo abrir a Manteigaria Lisboa, uma rede de fábricas de pastéis de nata, que deve ter 50 unidades no País até o fim de 2016 – as duas primeiras lojas estão na região da avenida Paulista, em São Paulo. Cada unidade fará apenas o quitute português, com várias fornadas diárias, para que o doce esteja sempre fresquinho. Para acompanhar, café brasileiro ou os lusitanos vinho do Porto e moscatel de Setúbal. “Só importo o que não é feito no Brasil”, diz. Defensor dos restaurantes especializados em um ou poucos pratos, Pestana fala a seguir sobre seus planos para o Brasil.
Como foi a mudança de economista para restaurateur?
Aos 50 anos, saí de uma grande empresa e decidi que era tempo de mudar de vida. Estava cansado de dizer mentiras, fazer contas para enganar as pessoas. Então me aposentei e abri um pequeno restaurante, o Faz Gostos, dedicado à comida da minha terra de origem (o Algarve, em Portugal). Depois disso, saí na capa da Time Out e em grandes revistas e jornais portugueses, sempre com várias distinções. Com isso fui abrindo casas. Já estava decidido a abrir restaurantes em Dubai quando apareceu um grande amigo meu, o Antonio Caminha, que mora em São Paulo e me convenceu a vir para cá
E por que apostar nos pastéis de nata?
É uma receita de família. Minha avó já fazia pastéis de nata, depois minha mãe, em uma fase difícil do meu pai, sustentou a família com os doces, vendendo para muitas padarias em Portugal. Em uma fase complicada da minha vida, quando tinha 18 anos, minha namorada de então também aprendeu a receita com a minha mãe e fazia 1 mil pastéis de nata por dia, para vender às padarias. E acho que o negócio dos restaurantes de luxo não está em um bom momento. Então acho que no Brasil, com a crise que estamos a viver, qualquer pessoa pode comer um doce por R$ 5 ou levar para casa uma caixinha com seis pastéis de nata, por R$ 25, para adoçar a vida.
E qual a diferença do seu quitute?
Quero ser um especialista. Tudo que faço, quero fazer bem. Cada loja vai ser uma fábrica própria, para manter a qualidade. Não vamos ter uma central de distribuição nem vou abrir franquias. Levei quatro meses pesquisando ingredientes e hoje usamos a melhor farinha, os melhores ovos, a melhor nata, a melhor manteiga, tudo brasileiro. Só vou trazer de fora o que não houver mesmo por aqui.
E quais os próximos planos para o Brasil?
Vamos primeiro fazer 50 manteigarias por todo o Brasil, 20 delas em São Paulo. Depois vamos ao Rio e a Brasília.
Pretende abrir outros negócios?
Quero trazer um conceito belga, que é dos pratos com mexilhões. No Brasil, há muito mexilhão bom na região Sul e tenho receitas belgas (o Oui, Moules & Huîtres, em Lisboa, é especializado no ingrediente). Quero também abrir um bar que vai servir os dez melhores petiscos portugueses e vinhos em taça. Quero tentar acabar com a mistificação do preço do vinho português no Brasil, que aqui é um roubo. Quero vender o vinho em taça ao mesmo preço de um copo de chope. O preço médio por pessoa deve ser de R$ 60 a R$ 70, mas quero que todos comam e bebam bem. E ainda quero abrir uma “champanheria” e vender ostras. Mas quero ter muitos espumantes brasileiros, há rótulos muito bons por aqui. Colocarei também champanhe francês e alguns cavas espanhóis, mas o foco será nos espumantes brasileiros.
Pelo visto, o senhor veio mesmo para ficar.
O Brasil tem tudo o que os outros países gostariam de ter. A alegria é a matéria-prima, a riqueza. Enquanto em Portugal a música nacional é o fado, e a gente chora, no Brasil a música é o samba, e a gente ri.
Manteigaria Lisboa
rua Padre João Manuel, 37 – Cerqueira César (veja no mapa)
(11) 3032-2229 – São Paulo – SP
facebook.com/manteigarialisboa
* Reportagem publicada na edição 200 da Menu