por Roberto Fonseca*

Não foi exatamente fácil pensar em uma coluna sobre cerveja durante uma expedição a Jerez de la Frontera, na Espanha, terra do xerez, e suas diversas bodegas. O momento da epifania veio ao provar algumas variedades de Pedro Ximénez, tipo de xerez bastante escuro, com notas destacadas de uva-passa, corpo denso, macio, oleoso e que vai bem, entre tantas possibilidades, com sobremesas. Há, no mundo cervejeiro, um estilo com características parecidas, a Imperial Stout.

Se, em geral, o estilo base já alia notas torradas e de frutas escuras com corpo denso, por influência principalmente norte-americana, surgiram também exemplares com chocolate, cacau, café, baunilha e frutas. Muitas vezes, o conjunto ainda passa por barris. No Brasil, algumas cervejarias já produzem bons rótulos com essa inspiração. Chamam a atenção as três Stouts com coco (as Imperials Manjar Negro e Manjar dos Deuses e a Super Coconut, menos alcoólica) da cervejaria gaúcha Tupiniquim. Todas, mas em particular a Super Coconut, têm presença bastante destacada do coco, que combina bem com o torrado moderado do estilo base.

As paulistanas Júpiter e Urbana também lançaram recentemente uma nova edição da Antimatéria, Imperial Stout com café, baunilha e maturação em barril de madeira. Além das Stouts, há ainda Porters com perfil para sobremesas. A gaúcha Perro Libre lançou em julho uma Imperial Porter com cacau e morango. A combinação deu certo, embora a cerveja pudesse ter um pouco mais de corpo e residual adocicado.

Entre as importadas, há no mercado algumas opções interessantes, vindas em geral dos EUA e da Europa. Uma delas é a Founders Lizard of Koz, que leva mirtilo, chocolate, baunilha e é maturada em barris de bourbon. Também americana, a Oskar Blues tem no Brasil a Death by Coconut, uma Porter com presença potente de coco. Dentre as mais clássicas, e já há algum tempo por aqui, está a Young’s Double Chocolate Stout, menos alcoólica e pendendo mais ao adocicado e ao chocolate ao leite.

Uma vantagem das Stouts de sobremesa é que, pela força alcoólica e potência de aroma e sabor (além, é claro, da doçura residual de alguns exemplares), é possível compartilhar uma garrafa em várias doses pequenas. O que não deixa de ser um alento, dado o preço atual das cervejas, principalmente as que levam mais tempo para serem produzidas.

* Texto publicado na coluna Colarinho, da edição 221 (Setembro de 2017)