José Alberto Zuccardi, que veio ao Brasil lançar novos tintos argentinos

Por Suzana Barelli

José Alberto Zuccardi, acredito, é uma das unanimidades do mundo do vinho argentino. Simpático e solicito como poucos, ele ajudou a escrever um capítulo importante e recente na história do vinho de qualidade de seu país. Sempre que posso, não perco a oportunidade de conversar com ele. Desta vez, o bate-papo foi em São Paulo, cidade que ele visitou recentemente para divulgar seus novos vinhos, importados pela Ravin. Mas o melhor é quando esta conversa é em sua vinícola em Mendoza, saboreando uma das melhores empanadas argentinas, preparadas no restaurante da própria bodega.

Como além de simpático, Zuccardi tem sorte, enquanto preparava a viagem para o Brasil, dois de seus vinhos receberam altas pontuações de Robert Parker, o influente crítico de vinhos norte-americano. Ele colocou as garrafas – ainda sem rótulo, alias com um rótulo provisório feito para a viagem – na mala. O primeiro é o Finca Piedra Infinita 2012, que eu compraria só pelo nome, mas que tem muita qualidade, mostrando o percurso da Argentina da potencia para a elegância. Parker lhe deu 96 pontos e, no seu guia Wine Advocate, está escrito: “’e o mais mineral e sério vinho que eu já provei do Zuccardi”. O segundo é o Finca Los Membrillos 2011, um cabernet sauvignon mais austero, complexo, muito jovem, que vai fazer sucesso, e que teve 95 pontos.

Da conversa no final do almoço, alguns pontos:

– um deles é a nova vinícola que a família está construindo em Altamira, no vale de Uco. Quem já visitou garante que vale pela sua arquitetura, que valoriza as matérias-primas locais. Mas é, principalmente, no interior da bodega que está seu fascínio. Tanques diversos, como os em formato de ovo e os grandes foudres de 2.500 litros, em madeira, mostram a proposta de trabalho de Sebastián Zuccardi, seu filho, que agora cuida dos vinhos. Sebastián procura respeitar mais o terroir (não é a toa que Pedro Parra, o grande especialista neste tema, é consultor da Zuccardi), sem usar tanta tecnologia na vinícola. Um exemplo é que não há tanque de inox e há muitos tanques de concreto na nova construção.

– O segundo ponto é a bonarda, a variedade bem rústica italiana muito plantada na Argentina. Um dos lançamentos de Zuccardi é o tinto Ema 2011, elaborado apenas com bonarda e com um preço um tanto alto para a variedade: R$ 238. Mas este vinho (e outros também elaborados com a cepa) mostra que esta variedade está ganhando espaço entre os bons tintos argentinos. “Estamos começando a aprender a lidar com esta vinha”, diz ele. É verdade: os viticultores ainda têm muitas dúvidas sobre sua região de cultivo, a maneira de conduzir a planta, entre outras questões. Mas bons exemplos de bonarda estão surgindo no mercado e vale ficar atent à cepa.

– Por fim, Zuccardi fez uma análise bem interessante sobre a nova geração de enólogos da Argentina, a quem chama de terceira geração. Seu filho Sebastián é um deles. Segundo José Alberto, é uma geração que tem experiência internacional, com colheitas no Velho Mundo, e que gosta de trocar experiências entre si, em que um prova o vinho do outro, que conversam. “Parece que não há segredo entre eles”, conta. O vinho agradece.

– no evento, Zuccardi apresentou mais quatro tintos: São eles, o Brazos de los Andes 2011 (R$ 95), um lançamento para quem quer entender o trabalho de qualidade do vinho argentino; o Tito 2010 (R$ 298), um interessante malbec com pequenas porcentagens das uvas cabernet sauvignon e calador, batizado em homenagem a seu pai, falecido recentemente, e o Zeta 2010 (R$ 325), um dos primeiros grandes tintos da Argentina. Por fim, o Aluvional La Consulta 2008 (R$ 598), que mostra o trabalho de Sebastián em entender o terroir argentino.