por Pedro Marques

Nos Estados Unidos, as cervejas especiais fecharam 2016 com uma fatia de 12,3% do mercado, segundo dados da Brewers Association, entidade que representa o setor. Um dos motivos apontados por analistas para que os produtores artesanais norte-americanos alcançassem esse resultado é o fato de que as grandes cervejarias ignoraram esse segmento por um tempo, abrindo espaço para que os pequenos cervejeiros crescessem. As principais produtoras de cerveja do mundo, porém, mostraram que não estavam dispostas a perder tanta participação de mercado. E isso as levou a comprar cervejarias artesanais – no Brasil, por exemplo, a AB InBev, representada pela Ambev, comprou as artesanais Colorado e Wäls.

No brewpub da Goose Island, são servidos os chopes tradicionais da cervejaria e novidades feitas por lá pelo mestre-cervejeiro Guilherme Hoffmann

Essas aquisições, porém, causaram desconfiança em uma parcela dos consumidores. Para muitos, uma vez que um pequeno produtor entra para um grande grupo, ele passaria a perder em qualidade. A gigante AB InBev, pelo menos, pretende mudar essa percepção. Uma das estratégias da empresa para 2017 é aproximar suas marcas dos consumidores – especialmente para mostrar que as artesanais que agora estão debaixo de seu guarda-chuva mantêm independência e poderão continuar trabalhando com novidades. “Nosso grande objetivo é a construção das marcas”, explica Pablo Pedalino, gerente de expansão de Ambev.

As torneiras do brewpub da Goose Island

Segundo ele, o consumidor tem mudado muito a forma como interage com a bebida – agora, ele quer mais informações sobre as cervejas, como são feitas e o que há de novidade, entre outras coisas. E a maneira encontrada pela empresa para alcançar esse objetivo tem chamado a atenção – as cervejarias estão sendo transformadas em bares.

O primeiro deles foi o Câmara Fria, uma parceria da Ambev com o grupo Cia. Tradicional de Comércio, inagurado em outubro do ano passado, em São Paulo. Com formato de speakeasy e localizado dentro do bar Original, no bairro de Moema, a casa serve apenas chopes e rótulos da mineira Wäls, de Belo Horizonte. Em seguida veio a Goose Island Brewhouse – misto de bar e microcervejaria localizada em Pinheiros, também na capital paulista – que abriu no fim de 2016 e oferece tanto cervejas clássicas da norte-americana Goose Island, que faz parte do grupo AB InBev, como receitas próprias, como a Carolina, gelada do estilo Sour Ale que leva goiabada.

Entre as preocupações da casa, está a de dar aos clientes mais informações sobre os rótulos vendidos ali. “Desde o início, a gente faz um esforço para auxiliar as pessoas a entender mais sobre o assunto. Sempre que lançamos uma cerveja fazemos um treinamento para que a brigada possa explicar sobre a bebida aos clientes”, diz Pedro Bertho, gerente da Goose Island para o Brasil. Além disso, Guilherme Hoffmann, mestre-cervejeiro da casa, praticamente acumula a função de embaixador da Goose Island por aqui, levando clientes para conhecer a microcervejaria e explicando as novidades preparadas por lá. “Lançamos de três a quatro cervejas por mês, exploramos fermentos e lúpulos diferentes. Também vamos fazer receitas envelhecidas em barris de cachaça e com outros ingredientes, como frutas (cacau, caqui e laranja, por exemplo)”, afirma Hoffmann.

A Colorado, por sua vez, também virou bar – no caso, o Bar do Urso. Por enquanto, são duas unidades em São Paulo – uma em Pinheiros e outra no Tatuapé – com planos de abrir uma terceira em Ribeirão Preto, cidade onde a cervejaria nasceu. O conceito é diferente: essas casas vendem apenas cerveja e nada de comida. Para acompanhar as geladas, a casa encoraja os clientes a pedirem, via delivery, petiscos de bares e restaurantes próximos. “É um bar despretensioso, que tem o objetivo de trabalhar com os parceiros locais”, afirma Pablo Pedalino.

O Bar do Urso destaca as cervejas da Colorado e tem um modelo diferente: as comidas devem ser pedidas via delivery

E, em junho, a Wäls inaugurou um espaço para chamar de seu em Belo Horizonte (MG), o Ateliê Wäls. “O espaço mistura arte, arquitetura e cerveja para oferecer uma experiência completa ao consumidor, é muito mais que uma fábrica. Vamos fazer cervejas envelhecidas e também teremos um bar que as pessoas poderão visitar e provar rótulos exclusivos”, explica Laura Becker, gerente de Wäls. Laura volta a falar proximidade aos consumidores. “É importante estar mais perto, falar sobre os estilos, qual comida combina”, diz.

Para ela, essas iniciativas ajudam não só as marcas da Ambev, mas o mercado como um todo. “Quanto mais ele aprender, mais esse setor vai crescer. É uma coisa boa para todo mundo”, opina. Pedro Bertho, da Goose Island, reforça a ideia. “Acho que a gente tem um papel de fazer a cerveja artesanal crescer”, diz. “Acreditamos que, quanto mais gente experimentar, melhor. Esse ainda é um segmento muito pequeno no Brasil”, acrescenta Pablo Pedalino, que faz segredo sobre os próximos planos da empresa. “Por enquanto, vamos focar nessas iniciativas e entender como isso vai se desenvolver.”

Ateliê Wäls
rua Adelino Teste, 251 – Olhos d’Água (veja no mapa)
Belo Horizonte – MG

Bar do Urso
rua Mourato Coelho, 23 – Pinheiros (veja no mapa)
São Paulo – SP
rua Itapura, 826 – Vila Gomes Cardim (veja no mapa)
São Paulo – SP

Câmara Fria
rua Graúna, 137 – Moema (veja no mapa)
(11) 5093-9486 – São Paulo – SP

Goose Island Brewhouse
rua Baltazar Carrasco, 187 – Pinheiros (veja no mapa)
(11) 2886-9858 – São Paulo – SP