No domingo passado (19), o chef do Rodrigo Oliveira, do Mocotó, postou em suas redes sociais uma mensagem enviada por uma cliente, identificada apenas como Sandra, com críticas à localização do restaurante, na Vila Medeiros, no extremo da Zona Norte da capital paulista. “Localização perigosa e precária… Ficamos com muito medo”, escreveu.

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Sandra também fez questão de enaltecer o fato de morar no Tatuapé, bairro de classe média da Zona Leste de São Paulo. “Bairro maravilhoso e cheio de restaurantes bons”, afirmou Sandra. O caso rendeu muitos comentários, a maioria deles reprovando a atitude bairrista da cliente.

Nesta sexta-feira (24), Oliveira fez questão de mostrar que nem todos os moradores do Tatuapé pensam como Sandra e postou o conteúdo de um pedido de desculpas enviado por e-mail por outra cliente do bairro, que afirmou ter ficado envergonhada com a situação.

Desta vez, no entanto, a mensagem arrancou elogios de Oliveira. “É por causa de gente como a Dircilene que a gente ama o Tatuapé. Vale a pena ler cada linha da mensagem na íntegra”, escreveu o chef. Confira o texto completo a seguir.

“Meu nome é Dircilene e envio minha mensagem por email porque não tenho redes sociais. Porém, gostaria que meu comentário chegasse ao chefe Rodrigo e a toda equipe.

Sou moradora do Tatuapé desde que nasci e minha família está no bairro desde o início do século passado, quando o bairro ainda era habitado por pequenos chacareiros e as galinhas ciscavam soltas pelas ruas de terra.

Aqui, eles amassaram muito barro até que o asfalto chegasse. Eu já sou da geração do asfalto, mas ainda sou da época em que os prédios eram raros e as compras eram feitas em vendas, quitandas e pastifícios familiares, nas ruas havia os vendedores de biju com suas matracas e os tocadores de realejo e na feira havia os dançarinos com suas bonecas “Nega Maluca” para o delírio da molecada.

A maior parte das crianças ia para a escola a pé e todas brincavam na rua enquanto os adultos conversavam no portão. Ninguém tinha restrições quanto a comprar roupas e sapatos nas barracas das feiras e usá-los com muita satisfação.

O famoso jardim Anália Franco era uma massa de lotes vazios com poucos moradores. Enfim: praticamente uma cidade do interior. Um lugar muito bom para se viver.

E assim continua sendo. Agora é um bairro que oferece todos os tipos de serviços; o que é facilita muito a vida de quem vive aqui. Mas isso não faz que seus moradores sejam melhores ou maiores que ninguém em qualquer lugar que seja.

Fiquei envergonhada com a notícia sobre o comentário feito por essa moradora, que colocou o bairro como um fator de superioridade.

Não é.

Isso é apenas um delírio esnobe e não pode ser tomado como uma postura “do bairro”. Minha vergonha é tamanha que me senti compelida a pedir desculpas.

Acho que gastronomia, cultura e eventos de qualidade devem estar em todos os lugares da cidade e não podem estar limitados a guetos “que se creem” privilegiados.

Espero sinceramente que essa postura patética não impeça que um dia o chefe considere a ideia de trazer o Mocotó para o Tatuapé. Não porque seja o lugar mais apropriado para um restaurante premiado, mas porque atenderia muito bem toda a Zona Leste: mais perto do pessoal da Mooca, do Belém, da Penha, da Vila Formosa, da Vila Esperança, etc.

Aceite minhas desculpas de tatuapeense da gema, que ama o Tatuapé simplesmente porque é um bom lugar para ser viver.”

(*) Da redação da Menu