Por Roberto Fonseca*

Juicy IPAs carregadas de notas cítricas e frutadas ou Imperial Stouts adocicadas e com adjuntos que vão de avelã a framboesa? Dias antes de iniciar uma viagem cervejeira à Flórida, em junho, era essa a pergunta que me ocorria ao pensar em quais estilos deveria me focar, para aprender mais e compará-los às versões brasileiras. A dúvida se dissipou no mesmo instante em que, aberta a porta do desembarque do aeroporto, meus óculos embaçaram, sinal do calor e umidade intensos em Tampa. Nem IPAs, nem Imperial Stouts: naquele momento eu queria mesmo era me refrescar com uma – ou várias – Sours, ou cervejas ácidas.

É claro que, em quase seis dias de viagem e visitas a uma dúzia de cervejarias e produtores de sidra de Tampa e St. Petersburg, foi possível degustar IPAs, Imperial Stouts e cervejas de outros estilos. Mas rótulos de estilos como Berliner Weisse e Gose eram presença constante nas torneiras. Em linhas gerais, eles têm uma acidez lática, que lembra um suco de limão, e não vinagre, e não possuem notas selvagens destacadas, como as Lambics, por exemplo. Como complemento, muitas versões utilizam frutas, fato ligado diretamente à produção agrícola do Estado, uma das principais dos EUA. A lista de ingredientes das cervejas é ampla e inclui limão, laranja, papaia, ameixa, cítricos exóticos como o japonês sudachi, framboesa, cerejas, café, baga de sabugo etc.

A combinação de acidez e frutas deu origem a um “embrião” de estilo, o Florida Weisse, que usa como base a Berliner Weisse. Com uma acidez refrescante, baixo teor alcoólico e o diferencial das frutas, as “azedinhas” – chamem-se ou não Florida Weisse, pois nem todos os produtores locais parecem ter abraçado a ideia – foram a companhia perfeita para dias abafados e quentes na região, em especial nos momentos de espera entre uma chuva rápida e outra. Coincidência, o Brasil tem a Catharina Sour, que guarda algumas semelhanças com a Florida Weisse, em especial na preponderância da fruta sobre uma base ácida (a versão daqui é, em geral, um pouco mais alcoólica).

Com 344 cervejarias no Estado, segundo dados do primeiro semestre de 2019, é bastante improvável não passar diante de nenhuma cervejaria na Flórida. A maioria delas conta com mais de uma dezena de torneiras das quais saem diferentes receitas, o que recomenda um certo comedimento para não encerrar o dia involuntariamente mais cedo. Felizmente, a cultura dos samplers ou flights (copos menores de cada cerveja, com objetivo de permitir o conhecimento do máximo possível de cada produção sem beber grandes quantidades) é bem estabelecida, e também é possível levar chopes para o hotel ou para casa, já que os locais, em geral, também possuem crowlers, ou latas que são enchidas e seladas na hora.

Mas talvez a dica mais interessante aos viajantes cervejeiros seja intercalar as visitas das fábricas com atividades não cervejeiras – ou, pensando melhor, onde a bebida não é o destaque, já que ela é quase onipresente no cotidiano local. Mesmo em atrações turísticas clássicas, como o parque de diversões Busch Gardens e o Aquário de Tampa, há conexões com a cerveja, ora pela história, ora por momentos em que a bebida arrecada fundos para causas importantes, como a Sand Tiger Nitro Stout, cerveja escura da Coppertail que faz referência ao tubarão conhecido no Brasil como touro ou cinza, e destina parte dos lucros das vendas a projetos de preservação da espécie. É possível prova-la no bar do aquário. A mesma cervejaria produz outra Stout que leva na receita – isso mesmo – caranguejos locais. Alguns deles também podem ser vistos no aquário.

Este é o primeiro texto de uma série que começa hoje sobre o roteiro cervejeiro em Tampa e St. Petersburg. Fiquem atentos aos próximos!

*O repórter viajou a convite de Visit Florida