Por Roberto Fonseca

É hora de dar férias às cargas intensas de lúpulos cítricos e tropicais. E, também, à ideia pré-concebida de que “cerveja escura sempre é mais forte e encorpada”. O roteiro de estilos desta edição mostra que nem sempre as castanhas e amarronzadas têm de ser potentes: há exemplares, como as Dark Milds e algumas Scottish Ales, com bem menos álcool do que a sua cerveja do dia a dia. Elas se enquadram no conceito de “session beers”, ou cervejas para se tomar em maior quantidade, no decorrer de uma tarde, por exemplo.

O foco, neste grupo de cervejas, é a complexidade dos maltes mais escuros, com notas de caramelo, toffee, biscoito e casca de pão tostada, entre outras. O lúpulo é coadjuvante, salvo nas American Brown Ales – e isso permite distingui-la com mais facilidade da British Brown Ale. Tarefa menos simples é comparar a Scottish Heavy e a Scottish Export, onde a principal diferença está em força alcoólica, mas sem um “degrau” considerável. Já quando comparadas à Wee Heavy, há uma clara demarcação de aquecimento alcoólico e complexidade de maltes em favor desta última.

Segundo o historiador cervejeiro Horst Dornbusch escreveu no livro The Oxford Companion to Beer, um dos motivos de o lúpulo não ter destaque nas Scottish Ales é o fato de o ingrediente (uma planta) não se adaptar bem ao clima escocês. Já a oferta de malte era bem maior e compartilhada com as destilarias de uísque. Algumas destas cervejas ainda mantêm no nome os números 60, 70, 80 e 90, que se referem à faixa de preço (em shillings) em que os barris delas se enquadravam no século 19. Já o termo Brown Ale, bastante genérico, começou a ser usado na metade do século 17; criada em 1927, a Newcastle Brown Ale se tornou uma das referências clássicas de British Brown Ale. Com a imagem associada aos trabalhadores da indústria, o estilo perdeu consumidores na segunda metade do século 20 e, como em outros casos, foi “resgatado” por cervejeiros norte-americanos e repaginado com uma pegada de lúpulo mais destacada.

Em seu livro A Mesa do Mestre Cervejeiro, Garrett Oliver, da cervejaria Brooklyn, propõe harmonizar Brown Ales britânicas ou americanas com amêndoas salgadas, como entrada, ou kebab; hambúrgueres e frango frito (no caso das americanas); hommus, frango assado e goulash (no caso das britânicas). Scotch Ales, em geral, casam bem com carneiro assado ou cogumelos. A Wee Heavy, para ele, vai bem com foie gras.