Por Roberto Fonseca

Enquanto as American India Pale Ales desfrutam de aumento constante de interesse e variedade na cena cervejeira artesanal brasileira, a “irmã” mais velha do estilo – cujas origens estão no final do século 18 – não tem, nem de longe, o mesmo reconhecimento local. Assim como as English IPAs, parte considerável do que se considera escola britânica de cervejas – com Bitters, English Pale Ales, Extra Special Bitters (ESBs) e Stouts – acaba ficando em segundo plano entre os bebedores e produtores nacionais. A exceção é a Dry Stout Guinness, irlandesa, que parece manter uma clientela fiel por aqui, entre experts e leigos.

Mas e a English IPA? Será que, sem os potentes aromas cítricos, frutados e resinosos das American IPAs (a versão inglesa pende mais para notas frutadas de fermentação e lúpulo terroso, com amargor menos destacado), ela consegue chamar a atenção dos consumidores? “Temos ótimas cervejas (de inspiração britânica) no Brasil, como Stouts e Bitters, mas em termos de English IPAs são muito poucas comparadas com as norte-americanas”, afirma Maurício Chaulet, sócio do Lagom Brewery & Pub e da Cervejaria Mutante, ambas produções gaúchas.

Apesar de apontar a ESB e a Dry Stout do Lagom como favoritas de vendas junto com a American IPA, ele aponta dificuldade do público em compreender a English IPA. “Ainda tem muita gente que considera que, nas IPAs, quanto mais amargo, melhor. Acham a English pouco amarga, aí tenho de explicar a diferença. O ‘hop-head’ (‘cabeça de lúpulo’, termo usado para identificar fãs de American IPAs) quer saber do amargor. O consumidor da English prefere perguntar de detalhes, nuances da receita.”
Ironicamente, apesar da pouca diversidade de English IPAs “declaradas” no mercado, é possível encontrar não poucos rótulos com a denominação American IPA que, seja pelo uso de pouco lúpulo de aroma e sabor, seja pela base de malte com notas de caramelo destacadas, acabam lembrando mais as versões britânicas do que as norte-americanas. Ainda assim, é triste que o leque de estilos cervejeiros no Brasil não tenha tanta participação da escola britânica como poderia.

“É triste que o leque de estilos cervejeiros no Brasil não tenha tanta participação da escola britânica
como poderia”