Por Suzana Barelli

Encontrei Jancis Robinson no aeroporto de Mendoza. Era domingo final da tarde e tínhamos acabado de desembarcar do mesmo vôo de Santiago do Chile para a capital do vinho argentino. No saguão, conversamos sobre o concurso de vinho que participaríamos a partir do dia seguinte. Jancis tinha sido jurada da primeira edição, em 2007, e eu da última, em 2014. Ela, animada, contou: no primeiro dia serão 83 vinhos; no segundo, 87 e no terceiro, mais de 50. Lembro que eu comentei: estes são os vinhos do seu grupo, não sei quantos serão no meu. Na organização do Argentina Wine Awards (AWA), o concurso que na sua 9.ª edição teria apenas mulheres entre as juradas, são seis grupos de degustadores, cada um formado por dois convidados internacionais e um argentino. Cada grupo prova um número mais ou menos equivalente de vinhos e todos os rótulos são degustados por dois grupos diferentes.

Poucas horas depois, no coquetel de apresentação das juradas, eu soube que a mim também caberiam os mesmos 83 vinhos no primeiro dia, 87 no segundo e exatos 55 vinhos no terceiro. Com uma tabela impressa em um papel sulfite, a inglesa Jane Hunt, que organiza o concurso, me avisou que eu e a sommelier argentina Marina Beltrame estaríamos no mesmo time de Jancis, o grupo E. “Não foi fácil dividir os grupos e achamos que será um júri equilibrado”, afirmou Jane.

UAH! Foi minha primeira reação. Depois veio um nervosismo, daquele em que as pernas tremem, o sorriso forma em sua boca e você não sabe se está contente ou não. Foi difícil dormir naquela noite. Tinha levado na mala o livro “Como degustar vinhos”, escrito pela própria Jancis, pensando em pedir um autógrafo. E agora a autora dos meus melhores ensinamentos de degustação iria degustar comigo. Naquela noite, até tentei folear o livro, mas não passei da segunda página.

O concurso começou às 9 horas da manhã do dia seguinte. Quando cheguei, cinco minutos antes, Jancis já estava lá, assim, como todas as juradas internacionais. A pontualidade parece ser uma marca das europeias e asiáticas, em contraste com as latinas. Jane Hunt deu as instruções gerais da prova – provaríamos às cegas, em grupos de três, e as únicas informações para os jurados são o estilo dos vinhos (espumantes, chardonnay, malbec etc), as safras e as faixas de preço (as amostras são classificados em cinco faixas de preço pelos seus valores de venda). E logo me vi sentada com sete espumantes à minha frente, e Marina e Jancis ao meu lado. Que bom que eram espumantes argentinos, estilo que para mim, talvez pela vocação do Brasil para as borbulhas, é mais fácil de avaliar.