por Roberto Fonseca*

Em um momento no qual não são poucas as marcas importadas que começam a rarear – ou sumir – no Brasil e cervejeiros locais sofrem com impostos e logística para mandar suas receitas além dos limites estaduais, vender uma fatia expressiva de sua produção em chope, a 15 km da fábrica, equivale a encontrar um oásis no deserto. E quando, além disso, esse lugar fica em aproximadamente uma quadra de avenida? Alguns produtores paranaenses conseguiram essa façanha.

Em um trecho de algumas centenas de metros – entre as ruas Coronel Dulcídio e Desembargador Motta, na região central de Curitiba (PR) –, a avenida Vicente Machado concentra sete pontos de venda de chope: Hamburgueria Whatafuck, JPL Café, Pizza, Draft Beer, Meatpack House, Juke Bar e O Barba Hamburgueria – um novo local, o Roots, cujo foco será em batatas de estilo belga, deveria abrir em agosto. Somados, possuem mais de 40 torneiras.

Nesses pontos, a cervejaria DUM, por exemplo, vende cerca de 15% de sua produção mensal de 3 mil litros. A Morada Cia. Etílica, cerca de um terço de seu total de chope, que gira entre 5 mil e 7 mil litros ao mês. A Tormenta, outra marca local, calcula destinar à região 35% de sua produção de 4 mil litros mensais. Nos três casos, os sete locais, somados, são o principal ponto de venda das marcas. O trio cervejeiro conta ainda com outra vantagem: produzir suas receitas na Gauden Bier, que fica a menos de 10 quilômetros dali. A Way, que também vende na região, fica a 13 km.

Daniel Mocellin, sócio do Whatafuck, calcula vender em torno de 7 mil litros de chope por mês em seu estabelecimento. “O principal atrativo da região não é o chope, mas a gastronomia e a cultura de calçada. É muito melhor poder ir e vir e não gastar para entrar em um lugar”, afirma. “Mas, com certeza, os chopes valorizam muito o cenário”. Ele, que produz uma American Pale Ale própria para o Whatafuck, aponta como ponto forte de seu negócio a venda de hambúrgueres a 10 reais. O preço dos chopes também chama a atenção: copos plásticos de 400 ml variam de R$ 8 a R$ 16, preços que assustaram, no bom sentido, este colunista paulistano, acostumado a pagar tais cifras em amostras de 150 ml. Será que teremos algo parecido na capital paulista um dia?

* Texto publicado na coluna Colarinho, da edição 210