É fácil pensar em peru e pernil assado como parte das tradições natalinas por aqui. Mas já pensou em comer frango frito de fast food na ceia de Natal? Segundo reportagem publicada pela CNN, o baldão de frango da rede norte-americana KFC faz parte da tradição de muita gente no Japão. Diferente, né?

A reportagem cita japoneses que curtem dividir um balde de frango frito com a família na ceia. Uma moradora de Hokkaido, que preferiu se identificar apenas como Naomi, diz que anseia pela sua refeição favorita do Natal: compartilhar o famoso frango crocante com a família, acompanhado de salada e bolo.

“No Japão, é costume comer frango no Natal”, diz a mulher. “Todo ano, eu peço um balde da KFC para degustar com a família. Eu adoro o tempero delicioso e um prato decorativo que vem junto, de brinde”, completa ela. Aparentemente, segundo a CNN, Naomi não é a única a curtir essa tradição diferentona para a ceia de 24 de dezembro.

Por lá, o dia mais concorrido do ano na KFC é justamente a véspera de Natal, quando os japoneses gastam até dez vezes mais do que o habitual em compras na rede de fast food. “À medida que o Natal se aproxima, a KFC começa a exibir mais propagandas na TV, e tudo parece muito delicioso. A gente costuma fazer o pedido com antecedência e só passamos na loja para retirar”, conta Naomi. “Aqueles que não reservam antes têm de encarar filas de horas para garantir o frango frito”, completa ela.

Adotando novas culturas

A CNN analisou por que o costume teria se entranhado na cultura japonesa, tão repleta, por si mesma, de tradições culinárias incríveis e ancestrais. Segundo a reportagem, para entender o fenômeno natalino da KFC é preciso voltar algumas décadas no tempo. Após um período de austeridade no país, que se seguiu nos anos 1940 e 1950, logo após a Segunda Guerra, a economia japonesa finalmente começou a decolar.

“O poder econômico do Japão estava explodindo… e as pessoas tinham dinheiro para entrar na cultura de consumo pela primeira vez”, diz Ted Bestor, professor de Antropologia Social da Universidade de Harvard, que estudou comida e cultura japonesas por muitos anos.

“Como os Estados Unidos eram uma potência cultural na época, havia um grande interesse pelo estilo de vida ocidental, incluindo alimentação. O Japão estava realmente se abrindo”, afirma o pesquisador.

Enquanto morava no centro de Tóquio, no início dos anos 1970, Bestor se lembra de ter visto muitas franquias estrangeiras surgindo, como Baskin-Robbins, Mister Donut e The Original Pancake House.

Durante esse período de rápida globalização, a indústria de fast food do Japão expandiu 600% entre 1970 e 1980, de acordo com “Colonel Comes to Japan”, um documentário de 1981 dirigido por John Nathan. O KFC – então conhecido como Kentucky Fried Chicken – fazia parte do grupo, abrindo sua primeira loja no Japão em Nagoya em 1970.

Em 1981, a rede norte-americana abriu 324 lojas no Japão – mais de 30 por ano – e faturou cerca de US$ 200 milhões por ano, segundo o documentário. “Parecia que, de repente, o Kentucky Fried Chicken estava em toda parte”, lembra Bestor.

Feriado não-religioso

Naquela época, porém, o Natal era – como ainda é – considerado um feriado não-religioso. Afinal, no Japão menos de 1% da população se identifica como cristã, e, na década de 1970, muitas pessoas não tinham tradições familiares de Natal estabelecidas.

Foi aí que o KFC entrou. A empresa lançou sua campanha de marketing “Kentucky for Christmas” em 1974 e a primeira iteração dos baldes de frango frito, em edição de festa, logo tomou força. Em 2012, a Japan Airlines se uniu à KFC para oferecer o “AIR Kentucky Fried Chicken” – uma colaboração por tempo limitado que voou bem a tempo das festas de fim de ano.

Mas atribuir esse sucesso duradouro apenas à publicidade inteligente da companhia não seria totalmente justo – também pode ser atribuído à compatibilidade do KFC com as normas culturais existentes.

Por exemplo, Bestor diz que o KFC é semelhante a um popular prato tradicional japonês chamado karaage, que consiste em pequenos pedaços de carnes fritas empanadas com farinha panko, como frango ou peixe.

“Em termos de perfis de sabor, o Kentucky Fried Chicken não é um exagero – não é um sabor novo ou algo com o qual as pessoas precisam se acostumar”, diz ele.

Da mesma forma, a tradição de compartilhar um grande “balde de festa” de frango frito, salada de repolho e bolo se encaixa perfeitamente na cultura gastronômica japonesa.

“Ser capaz de compartilhar comida é uma prática social importante no Japão. Portanto, um balde de frango frito tem um sabor familiar e satisfaz esse desejo de comer juntos”, acrescenta.