Atual dona do Bek’s Bar, em Curitiba, Giovanna Lima, de 33 anos, recentemente ganhou destaque na mídia por lançar o delivery #ForaBolsonaro e criar um slogan de porção bem servida até para “maconheiros”.

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Com essas e outras novidades no cardápio, Giovanna renovou a clientela e recuperou o faturamento do boteco de esquina mantido há 41 anos pelo pai, Jefferson Eduardo de lima, que faleceu vítima de um câncer, em 2019.

Mas por que Giovanna fez tudo isso? “Então, na verdade, não foi muito escolha minha no começo. Fiquei quase um ano e meio convivendo com esses clientes e todo dia era uma provocação diferente, ofensas, deboches. Tive que aumentar minhas sessões de análise por causa do bar. Chegou num extremo”, lembra.

A redatora, escritora e jornalista garante que ia muito bem profissionalmente até o irmão, que tomava conta do estabelecimento da família, começar a ter crises de ansiedade e chorar depois do trabalho.

“Os clientes que herdamos do nosso pai eram completamente sem limites, se achavam sócios do bar, faziam questão de dizer que pagavam nosso salário. Ninguém respeitava a hora de ir embora, a saideira nunca era a última”, conta.

“E comigo era até um pouco pior porque sou mulher, lésbica e de esquerda”, analisa ela, que passou a se posicionar politicamente nas redes sociais do pequeno comércio e dizer “não” às transmissões de lives do presidente no bar.

Primeiro, ela criou o slogan sobre suas porções generosas de pratos da “baixa gastronomia”, como carne de onça, moela e sanduíche de mortadela, “Serve bem até dois maconheiros”.

Em seguida, começou a escrever de próprio punho nas sacolas de entrega à domicílio seu apoio ao processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto isso, no Twitter, coleciona declarações do tipo “combater o fascismo é nosso dever moral” e “Bolsonaro precisa pagar pelas vidas que ele arruinou e pelo luto causado às famílias”.

E, claro, não podia faltar a declaração publicada em 25 de julho. “Tem bastante gente que tem se incomodado com o nosso posicionamento, especialmente o político. Isso tem reverberado em comentários do tipo ‘perdeu um cliente’. Deixo aqui avisado que cliente que apoia o genocídio de 500 mil brasileiros e outros milhares de atrocidades DEFINITIVAMENTE não fará falta”.

Giovana ainda enfatiza que a motivação não foi polemizar nem chamar atenção. “Me baseio no que acredito e compro brigas pelos meus valores e princípios. Se isso significa perder um pouco de dinheiro, tudo bem. Pelo menos, sigo com a consciência tranquila. Acho que, desleal, mesmo, seria continuar atendendo gente que me tratava mal, desrespeitava minha namorada e meus amigos, ofendia o garçom. Não é marketing”, defende ela, que deixou de frequentar a hamburgueria Madero desde que a rede se posicionou a favor de Bolsonaro e entende como um posicionamento poderia afetar o faturamento.

Mesmo “sem querer”, a atitude de Giovana foi, sim, uma jogada de marketing das boas, das melhores, daquelas verdadeiras e que, literalmente, salvam um negócio da falência. Em 2020, o aperto foi tanto que passou pela cabeça dela “fechar o sonho” do pai.

“Se os bolsonaristas fossem respeitosos, seria outra história, mas os defensores do Bolsonaro acabam vindo dispostos a arrumar confusão. Acaba se tornando um ambiente desconfortável para trabalhar. Quando um cliente falou que não tinha que ter tanta mulher dentro do bar, minha cozinheira também ficou ofendida. Quando um cliente faz piada racista, ele ofende também minha garçonete que é negra. Não posso compactuar com isso de maneira alguma”, finaliza.

(*) por Paty Moraes Nobre