por Suzana Barelli

A Quinta dos Carvalhais é o projeto na região portuguesa do Dão da Sogrape, empresa que elabora vinhos em seis denominações de origem portuguesas e em uma região espanhola. Desde 2014, a vinícola é dirigida por uma mulher, a enóloga Beatriz Braga Cabral Almeida.

No desafio de elaborar vinhos elegantes e com complexidade – a marca registrada do Dão –, Beatriz diz que não vê grandes diferenças no trabalho entre homens e mulheres no mundo do vinho. “Mas há diferenças na maneira como cada um interpreta o ambiente que os rodeia, as suas ferramentas de trabalho e toda a diversidade inerente”, afirma ela. Beatriz assumiu a vinícola com a aposentadoria de Manuel Vieira, antigo enólogo da Carvalhais, com quem ela trabalhou por dois anos. Antes, ela era a responsável técnica pela enologia da Herdade do Peso, vinícola também da Sogrape, mas no Alentejo.

Natural do Porto, mãe de três filhos e próxima a dar à luz ao quarto filho, mesmo assim ela respira vinho o tempo todo. Ou como gosta de dizer: “Os tempos livres, ou melhor, os tempos longe do vinho, são muito poucos”, conta ela. A seguir, a conversa sobre vinhos e mulheres.

Na sua opinião, quais os desafios para uma mulher elaborar vinhos?

Acredito que não há desafios diferentes para mulheres ou homens na produção de vinhos. No caso concreto do Dão, o maior desafio, e que é transversal a homens e mulheres, passa por enfrentar as chuvas que por vezes surgem durante quase toda a vindima e reunir o máximo de esforços para fazer bons vinhos com essas condições.

O Dão é um terroir de vinhos mais elegantes. Você definiria o Dão como uma região de vinhos mais femininos? Sim, não? E por qual razão?

A região do Dão é fantástica e tem nos mostrado cada vez mais que no meio da paisagem agreste do granito, por entre eucaliptos, pinheiros e cedros, no centro de um grande planalto, nascem vinhos muito elegantes e delicados, frutados e florais, quase como que um perfume. Penso que esta é uma tendência de mercado em ascensão para determinadas gamas de vinhos. O consumidor, homem e mulher, procura cada vez mais atributos como a elegância e a subtileza nos vinhos do que outrora.

Na sua carreira de enóloga, você já sofreu algum preconceito por ser mulher? Se sim, como foi este preconceito?

Dentro do mundo dos vinhos as pessoas são muito respeitadas. Nunca sofri, nem percebi que alguma outra mulher enóloga tivesse sofrido algum tipo de preconceito. O consumidor acha muito curioso ver mulheres a trabalhar num setor que muitas vezes e durante muitos anos foi associado só a homens.

Na sua opinião, há diferenças na maneira em que homens e mulheres elaboram vinhos?

Como em todas as áreas, o conhecimento e experiência são a chave. Não diria que há diferenças na maneira como homens e mulheres fazem vinho, mas sim como cada um interpreta o ambiente que o rodeia, as suas ferramentas de trabalho: a região, as castas, as vinhas, o estilo de vinho da sua marca (ou marcas), e toda a diversidade inerente. Tudo em prol da produção de vinhos de qualidade e do prazer a proporcionar ao consumidor.

Qual o conselho que você daria para uma mulher que pensa em estudar enologia?

O mundo do vinho é maravilhoso. Não há dois dias iguais, por isso a monotonia não se instala! É preciso estar muito atento aos pormenores, pois os grandes vinhos fazem-se de atenção e detalhes! Trabalhe, prove e estude todos os dias, sempre pensando que o objetivo final de um vinho é dar prazer ao seu consumidor final.