08/06/2018 - 16:08
por Cintia Oliveira
Conhecido do grande público por conta de programas de TV como o Sem Reservas, em que viajava pelo mundo em busca de experiências à mesa, Anthony Bourdain, que morreu nesta sexta (8), também teve passagens marcantes pelo Brasil. Mas a relação do chef e apresentador com o País esteve longe de ser amor à primeira vista, como ele conta no episódio dedicado a São Paulo:
Mas uma das responsáveis por fazê-lo mudar de ideia foi a diretora de hospitalidade e gastronomia da Laureate Education, Rosa Moraes. Responsável pela implementação do primeiro curso de gastronomia do País, Rosa conheceu Bourdain em 2001, quando ela vivia em Nova York. “Uns dias depois do 11 de setembro, teve o lançamento do livro dele, o Em busca do prato perfeito. Não tinha quase ninguém por conta do ataque terrorista, então nós tivemos a oportunidade de conversar e ficamos amigos. Ele sempre foi muito acessível”, lembra ela.
Dois anos depois, a convite de Rosa, Bourdain desembarcou na capital paulista para participar do extinto evento gastronômico Boa Mesa. Em seguida, Rosa o levou para passar o fim de semana em sua casa na Barra do Sahy, praia localizada no litoral norte de São Paulo. As paisagens, a comida e inúmeras caipirinhas daquele fim de semana conquistaram o chef norte-americano.
Tanto que ele retornou ao País em 2007, para gravar um episódio do programa Sem Reservas em São Paulo. “Ele pediu para fazer as mesmas coisas que havíamos feito alguns anos antes. Lembro que as gravações foram conduzidas de maneira muito leve. Havia três câmeras filmando a gente se divertir”, lembra ela.
Bourdain retornou a capital paulista em 2010, para a gravação de outro programa, o Layover, no qual passava 36 horas em alguma cidade do mundo. E, em 2014, esteve novamente no Brasil, mas desta vez em Salvador, para as gravações do programa Parts Unknown, que apresentava na CNN. Confira um trecho do programa abaixo:
A sua última visita ao Brasil foi em 2016, quando foi a Minas Gerais gravar um episódio de Parts Unknown. “Quando ele entrou no meu restaurante, eu fiquei muito emocionado. Tive que segurar as lágrimas”, lembra o chef Leo Paixão, do restaurante Glouton, de Belo Horizonte (MG). A emoção se deve ao fato de que o livro de Bourdain, Cozinha confidencial, fez com que ele, anos antes, largasse a faculdade de medicina para cursar gastronomia. “Me identifiquei com a visão rebelde e contestadora que ele tinha. E, principalmente, pelo amor por todo processo que envolve o ato de cozinhar e de servir”, conta Paixão.
Na ocasião, o chef do Glouton ficou responsável por guiar o chef pela capital mineira. O roteiro incluiu visita ao Mercado Central, que decepcionou Bourdain por ser “certinho demais”, e um boteco onde Paixão costumava ir com os cozinheiros para tomar cerveja, comer caldo de mocotó e língua depois do expediente. “Ele era crítico, mas sempre de forma educada e mantinha uma postura muito profissional. Acima de tudo, curtia um bom papo”, lembra Leo Paixão, que, como forma de homenageá-lo, postou uma foto em suas redes sociais ao lado do apresentador e de dois cozinheiros do Glouton.
O chef ficou chocado com a morte repentina de Bourdain, assim como Rosa, que não falava com Bourdain há três anos. “Por coincidência, ontem me deparei com um e-mail dele. Até lembrei: é a vez de trazê-lo de volta para o Brasil. E hoje recebemos esta notícia”, lamenta ela. Para ela, Bourdain deixa um legado, que vai além de seu espírito aventureiro. “Com ele, aprendemos a deixar a frescura de lado e, acima de tudo, que comer pode ser divertido.”