17/04/2023 - 18:20
Não há nada de político em gostar de cerveja. Pelo menos é o que pensava o maior fabricante de cerveja do mundo, apenas para descobrir que quase tudo pode gerar cancelamentos no atual clima político dos Estados Unidos (e do mundo). A Anheuser-Busch, que produz a Budweiser e a Bud Light (dentre muitas outras marcas), viu o preço de suas ações cair mais de 3 bilhões de dólares recentemente, segundo a Newsweek, após uma proposta de boicote em protesto contra a aposta da empresa em uma influenciadora transgênero de mídias sociais.
Tudo começou de forma bastante inócua. Dylan Mulvaney, uma influenciadora popular no Instagram e no TikTok, é uma das muitas figuras célebres da internet patrocinadas pela Anheuser-Busch.
O conteúdo de Mulvaney também não era particularmente incendiário. Ela postou em 2 de abril sobre um concurso Bud Light contemporâneo ao torneio March Madness do basquete universitário da NCAA, enquanto observava, em um videoclipe anexo, que a Bud Light estava a ajudando a homenagear seu aniversário de um ano de transição feminina com um latinha especial.
Porém, a postagem com a Bud Light pareceu enfurecer muitos conservadores norte-americanos. Alguns postaram imagens de si mesmos descartando a cerveja da marca de várias maneiras diferentes. Até os músicos Kid Rock e Travis Tritt estavam entre os que defendiam um boicote à cerveja da Anheuser-Busch.
@whatstrending After receiving harsh criticism for her Bud Light partnership, Dylan Mulvaney speaks for herself (🗣: @andylalwani) #dylanmulvaney #howardstern #budlight ♬ original sound – WhatsTrending
Outros conservadores também condenaram a empresa, incluindo um ex-candidato ao governo do Arizona. Assim, o CEO da Anheuser-Busch foi compelido a responder. “Nunca pretendemos fazer parte de uma discussão que divide as pessoas”, observou o CEO Brendan Whitworth, segundo informações do site Tasting Table. “Nosso negócio é reunir as pessoas para tomar uma cerveja.”
O patrocínio de cerveja raramente parece tão controverso na América como no caso de Dylan Mulvaney. Talvez isso explique por que a Anheuser-Busch ficou perturbada com o golpe.
Embora alguns conservadores tenham elogiado a recente queda multibilionária na avaliação geral das ações da Anheuser-Busch, a Newsweek informou que provavelmente foi uma perda temporária e que um boicote prolongado provavelmente não prejudicaria a marca a longo prazo. Na verdade, pode até ajudar na diversificação da base de consumidores da marca.
Mais perturbadora é a forma como a controvérsia de Dylan Mulvaney reflete os ataques atuais contra a comunidade LGBTQ+. De acordo com o USA Today, aproximadamente 650 projetos de lei já foram apresentados em toda a América, em 2023, visando especificamente esse segmento da sociedade.
É digno de nota então que a Anheuser-Busch, apesar de suas mensagens conciliatórias, até agora tenha se recusado a se distanciar de Mulvaney. Brendan Whitworth reiterou o compromisso da empresa com os valores tradicionais em sua recente declaração.
“Meu tempo servindo neste país me ensinou a importância da responsabilidade e dos valores sobre os quais a América foi fundada: liberdade, trabalho duro e respeito mútuo”, disse ele ao Today.