por Paulo Machado*

Em 2013, recebi um convite que me deixou extremamente emocionado, extasiado e, ainda mais, desafiado: cozinhar no I Festival de Cozinha Brasileira na China, evento organizado pela Embaixada do Brasil em Pequim. Afinal, teria de mostrar nossos sabores para aquela cultura milenar.

O evento foi um verdadeiro aprendizado. Logo ao chegar na capital chinesa (e com todos os ingredientes da mala sãos e salvos), percebi como tudo é “uber” no país: de tecnologia a tradição e poluição. No primeiro dia, eu e o chef Felipe Ribenboim, que levei como fiel escudeiro, recebemos um grupo de 120 chineses famintos vindos do interior para comer nosso menu brasileiro, que estava sendo oferecido no hotel Grand Hyatt. E logo me chamou atenção como eles se portavam ao se servir no bufê. Mesmo advertidos, os comensais misturaram feijão com quindim, bobó com barreado. E as saladas eram, quando muito, só observadas.

O chinês não conhecia a cozinha brasileira, como boa parte do Oriente. Mas pude ver que eles têm uma curiosidade gastronômica por nossa cultura. Durante os 15 dias de bufê, o salão estava quase sempre cheio. E ainda fizemos jantares para mais de 500 comensais e dois menus degustação para mais de 20 jornalistas, blogueiros e convidados.

É claro que a troca foi mútua e tive a oportunidade de mergulhar profundamente na cozinha chinesa. Em Xangai, fui dar uma palestra sobre nossa cozinha e fiquei surpreso com um restaurante típico que visitei. Minha anfitriã chinesa pediu várias coisas aleatoriamente, que não fazia ideia do que eram. Mas o que senti foi um verdadeiro festival de sabores em minha boca: doce, salgado, picante, amargo, ácido, quente, frio. Ainda descobri que alguns restaurantes no Cantão, por exemplo, servem animais vivos. O comensal pode escolher dentre: rãs, sapos, jacarés, cavalos e animais de pequeno porte como pequenos moluscos – algo que vivenciei e foi inesquecível.

A troca entre nossas culturas alimentares continua a todo vapor. O festival de cozinha brasileira acontece todos os anos desde minha ida e já vai para a 5ª edição. E a procura é cada vez maior por chineses e estrangeiros que por aí passam e se esbaldam com nosso tucupi no pato de Pequim ou vatapá no bun de porco.

* Texto publicado na coluna Terra Estrangeira, da edição 213