22/08/2016 - 19:13
Por Suzana Barelli
A neve que cobre o cume da Serra da Estrela, no Dão, dá nome ao pequeno vinhedo de pouco mais de dois hectares e com vista privilegiada para essa que é uma das montanhas mais famosas de Portugal – a foto, que ilustra esse texto, não deixa dúvidas dessa, digamos, visão privilegiada da vinha. É um vinhedo especial para o enólogo português Carlos Lucas, que elabora com essas uvas dois vinhos, o Ribeiro Santo Vinha da Neve Branco e o Ribeiro Santo Vinha da Neve Tinto. Os dois são rótulos premiuns no portfólio da Magnum Wines, empresa na qual Lucas é sócio.
O tinto e o branco são cercados de cuidados, desde a atividade no vinhedo, até sua vinificação e engarrafamento – o branco vem em uma garrafa de cor verde escura, que pesa inacreditável 1 quilo, porque Lucas imagina que o vinho vai evoluir com o tempo na adega e deve, assim, estar muito protegido da luz.
Mas é o seu amadurecimento em barricas francesas que me chamou atenção na degustação de três safras do branco, dos anos de 2012, 2013 e 2014, realizada na semana passada na Adega Santiago, em São Paulo. Na ocasião, também foram degustados os tintos, dos anos de 2009, 2011 e 2012. Todas as seis garrafas foram trazidas na mala pelo enólogo para o Brasil. A Ribeiro Santo é uma das vinícolas do portfólio da Winebrands, mas a importadora não traz esses rótulos para cá.
No branco, Lucas vinifica a uva encruzado com uma pequena porcentagem, cerca de 5%, de sercial, em barricas francesas de 500 litros, sempre novas, da tonelaria Bertomieu. Terminada a fermentação, o branco é mantido nas mesmas barricas por mais quatro meses. Na safra de 2012, Lucas optou por vinificá-lo em barricas com tosta média plus (uma tosta mais intensa e que passa mais aromas para o vinho). Na degustação em São Paulo, a madeira se fazia visível nesse vinho, em seus aromas mais abaunilhados e em sua cremosidade.
Na safra seguinte, as barricas selecionadas tinham a sua tostagem interna na escala média. E os aromas associados à madeira, na prova, estavam menos evidentes. Na safra de 2014, Lucas decidiu manter a tosta média, mas trabalhar com barricas com o tampo sem tosta. Foi o vinho mais fresco do painel, ainda muito jovem, e com o paladar com boa cremosidade. Na safra seguinte, de 2015, ainda não lançada, Lucas seguiu o mesmo caminho. E assim deve ser em 2016.
“Fui mudando a minha mentalidade sobre a madeira”, afirma o enólogo. É um aprendizado não apenas desse enólogo, que ficou conhecido no Brasil quando elaborava os espumantes da Rio Sol, no vale do São Francisco, na década passada. A história desse branco exemplifica uma das tendências do mundo do vinho. Depois do uso exagerado de barricas na elaboração de brancos e tintos até recentemente, cada vez mais enólogos estão apostando em uma bebida mais fresca, elaborada com uma presença menor de barricas de carvalho e com tostas mais brandas. O consumidor agradece.