29/12/2015 - 11:00
por Romeu e Julieta*
Um oásis. Foi a primeira sensação que eu, Romeu, e minha fiel companheira, Julieta, tivemos ao entrar numa noite quente no Kouzina, restaurante grego instalado no coração dos Jardins, em São Paulo. A economia na decoração da casa (coisa rara numa cidade em que os restaurantes, muitas vezes, se preocupam demasiadamente com seu invólucro) cede espaço para a brancura reconfortante das paredes do apertado ambiente, algo que, imediatamente, remete às imagens de uma Grécia com suas construções alvas e iluminadas, debruçadas sobre o mar Mediterrâneo.
O simpático bar da casa, num anexo que quase escapa para a calçada, contribui para esse ar meio praiano do Kouzina – mais um empreendimento do grupo Phos, que também montou o restaurante MYK. Foi nele que, aguardando por uma mesa no agitado e apertado salão, bebericamos dois drinques da casa, um clássico Mojito (R$ 18), com menos rum do que o esperado, e o refrescante Mykonian Julep (R$ 28), que combina metaxa (um brandy grego), com hortelã e água gaseificada. Outras bebidas do país podem ser conhecidas ali, como ouzo (destilado de uva aromatizado com anis) e mastiha (um licor da ilha de Chios).
Mas se o ambiente é convidativo e informal – quem senta perto das diversas janelas pode ser surpreendido pelo garçom, que da calçada entrega pratos e anota pedidos –, a cozinha pode escorregar. Comandado pela chef Mariana Fonseca, que também dirige o MYK, o cardápio foi concebido para oferecer pratos gregos mais triviais (e preços, mais camaradas) – e nisso, a casa acerta. Mesmo quem não tem conhecimento da cozinha grega não terá dificuldade em escolher entre espetinhos de carne, saladas, pescados e a tão famosa moussaka (espécie de lasanha à base de batatas, berinjela e carne bovina ou de cordeiro). Julieta não deixou de notar alguns itens que, embora escritos em grego (como todo o menu), entram ali como forasteiros, como a coxinha (R$ 18) e o espaguete à bolonhesa (R$ 29).
Faltou um pouco de sabor e maciez ao kalamaki (espetinho) de cordeiro (R$ 46), um dos hits entre as entradas, que também apostam nas frituras, como camarão ou peixinhos fritos (R$ 19 e R$ 17, respectivamente), e lulas ou abobrinhas empanadas (R$ 21 e R$ 24). “Esturricado”, foi o veredicto da minha companheira, que teve mais sorte ao escolher o pão pita, escoltado por um delicado tzatziki (creme de iogurte, pepino e alho, R$ 12).
Difícil escolher entre as saladas, com ingredientes variados e convidativos – para Julieta, o ponto alto da refeição. Em porção generosa, a grega (com cebola roxa, tomate, pepinos, R$ 20) leva pimentões crocantes, tempero na medida e um queijo feta de textura macia, melhor do que muitos que já provei em São Paulo.
Minha escolha seguinte também agradou: a linda papoutzakia (R$ 38), um ragu de carne com batatas, e acomodados numa macia e adocicada berinjela grelhada (cuja polpa entra na mistura), é uma alternativa atraente à moussaka. Mas o que se seguiu foi uma sucessão de decepções. Sardinhas grelhadas, cobertas por tomates frescos picados (R$ 29), mais pareciam cozidas. No ponto correto, mas sem graça, estava o espaguete mediterrâneo (massa de grão-de-bico, com berinjela, tomates e abobrinha, R$ 29). Na ala das sobremesas, a típica baclava (R$ 25) merecia, para emoldurar a massa feita com amêndoas, nozes e pistache, uma massa folhada mais crocante. Julieta aprovou o recheio do doce, mas decepcionou-se com os loukoumades (R$ 16), espécie de bolinhos de chuva à moda grega, cobertos por calda aromatizada com água de flor de laranjeira, “A massa é pesada, e quase não se percebe a calda”, comenta ela.
Para harmonizar com as comidas, há quatro opções de vinhos, em jarra ou em taça – na verdade, simpáticos copinhos de alumínio, gentilmente dispensados por Julieta, que prefere o receptáculo tradicional. Ficamos com o branco Oenodea 2014, uma combinação da uva grega malagousia com sauvignon blanc e moscato (R$ 18, a taça), com o qual acompanhamos todo o jantar. Ao final, refletimos bastante se voltaríamos ou não ao Kouzina. “O clima agradável me atrai, por isso meu retorno seria somente no verão para ficar bebericando no bar”, avisou minha companheira. Eu voltaria antes para arriscar outras opções do cardápio e, quem sabe, me sentir ainda mais na Grécia.
Kouzina
rua Peixoto Gomide, 1.710 – Jardim Paulista
(11) 2935-0888 – São Paulo – SP
facebook.com/kouzinamyk
*Romeu e Julieta são o casal de críticos anônimos da Menu