Originária da Bélgica, as cervejas Saison combinam com vários pratos e são uma boa companhia para a chegada do ano novo

por Pedro Marques

Leves, refrescantes e capazes de harmonizar com uma grande variedade de pratos, de peixes e frutos do mar à carne de porco. Assim são as cervejas Saison, estilo nascido nas fazendas do sul da Bélgica.

O seu nome, que em francês significa “estação”, tem um motivo: quando foi criada, no século 18, não havia refrigeração e os fazendeiros precisavam fazer cerveja nas estações mais frias, para que ficassem prontas para ser consumidas durante a primavera e o verão.

Sua missão era refrescar os trabalhadores no calor. E, para criar uma bebida longeva e não tão alcoólica, os cervejeiros da época usaram mais lúpulo – ingrediente conservante que também confere amargor à bebida.

Aos poucos, o estilo foi tomando forma e hoje é um dos mais apreciados pelos aficionados. As Saison modernas têm cor de laranja brilhante, são bem carbonatadas, frutadas, temperadas (podem levar casca de laranja, pimenta-do-reino branca e outros ingredientes) e levemente ácidas. Apesar de terem vários ingredientes, as melhores Saison são equilibradas: o amargor do lúpulo, a acidez e as especiarias usadas se harmonizam, enquanto o malte confere a espinha dorsal do líquido.

É justamente essa harmonia que faz com as Saison combinem com inúmeras receitas. A acidez e o amargor casam com pratos mais gordurosos, como um pernil, e com peixes mais substanciosos, como o bacalhau tradicional do Natal. E como algumas dessas cervejas passam por segunda fermentação em garrafa, assim como os champanhes, e são seladas com rolha, ninguém vai estranhar se vocês festejar o Ano-Novo com uma Saison.

Foram por esses valiosos motivos que escolhemos dez rótulos de Saison para avaliar. O painel contou com a presença de Tatiana Spogis, sommelière da importadora Bier & Wein; René Aduan Jr., professor do curso de degustação de cervejas Senac/Doemens; Roberto Fonseca, jornalista especializado em cervejas e colaborador da Menu; o especialista Sergio Symanski; e os jornalistas Beatriz Marques e Pedro Marques. A degustação foi feita às cegas no restaurante North Grill Vila Nova e todas as garrafas foram compradas em lojas de São Paulo.

Saison Dupont (Bélgica) – 4,5/5
Essa Saison é considerada a principal representante do estilo. De cor amarela e turva, tem aromas complexos de frutas, compotas, acides perceptível e malte. Em boca, é bem refrescante, o malte e o amargor herbáceo são bem equilibrados e tem uma gostosa acidez com final seco. Tem 6,5% de álcool. R$ 51,65, 750 ml, na Costi Bebidas.

Invicta e 2 Cabeças Saison à Trois (Brasil) – 4/5
Mais uma prova de que quanto mais nova, melhor a cerveja. Lançada em 2013, essa Saison, feita em colaboração entre as microcervejarias Invicta e 2 Cabeças,tem cor amarela e é turva, com aromas agradáveis de pêssego, abacaxi em compota e acidez perceptível. No paladar, a acidez é bem marcante e agradável, com malte discreto e amargor equilibrado, com final seco e refrescante. Tem 5,8% de álcool. R$ 19,86, 500 ml, na Cerveja Store.

Brooklyn Sorachi Ace (EUA) – 4/5
A interpretação de Saison da cervejaria Brooklyn usa em sua receita o lúpulo japonês Sorachi, que dá nome ao rótulo. De cor amarela e turva, tem aromas de coco e de frutas em compotas, mais adocicados. Tem corpo leve e bom equilíbrio entre acidez, doçura e amargor, com final pouco persistente. Tem 6,5% de álcool. R$ 43,74, 750 ml, no Mambo.

8 Wired Saison Sauvin (Nova Zelândia) – 4/5
De cor laranja e turva, essa neozelandesa também leva o lúpulo exótico Sorachi em sua fórmula. Tem aromas de abacaxi em compota e capim-limão. Em boca, apresenta um toque salgado, com amargor presente, final seco e bem convidativo, mas falta um pouco de acidez. Com 7% de álcool. R$ 49,50, 500 ml, no Nono Bier.

Brewdog Electric India (Escócia) – 3,5/5
De cor dourada clara e límpida, essa escocesa revela aromas cítricos de laranja e de frutas em compotas. Tem boa acidez e bom amargor, que fica um pouco acima do esperado para o estilo, mas não compromete a bebida. O final é seco e agradável. Tem 7,2% de álcool. R$ 32, 330 ml, no Empório Alto dos Pinheiros.

De Molen Blikken & Blozen (Holanda) – 3/5
De cor âmbar e turva, o exemplar traz no nariz notas herbáceas e doces bem pronunciadas, de frutas passas e em compotas. Em boca, tem sabor de caramelo bastante agradável, o que não é esperado para o estilo e faz com que ela seja menos ácida que o desejado para oma Saison. O resultado é agradável, com bom amargor e final não tão seco. Tem 8,5% de álcool. R$ 24, 330 ml, no Empório Alto do Pinheiros.

Urthel Saisonnière (Holanda) – 3/5
De cor amarela e pálida, tem aromas levemente cítricos e adocicados. Em boca, é cremosa, com amargor, acidez e doçura equilibrados, além de final seco e agradável. Boa representante do estilo, tem 6% de álcool. R$ 14,85, 330 ml, no Nono Bier.

De Ranke Saison de Dottignies – 2,5/5
Tem cor laranja e é turva. No nariz, apresenta aroma adocicado de malte e pouco cítrico. Em boca, a amostra apresentou oxidação, fazendo com que o sabores de caramelo e a acidez fossem menos presentes. Em compensação, tem bom amargor, corpo leve e final seco. Tem 5,5% de álcool. R$ 47, 750 ml, no Empório Alto dos Pinheiros.

Bière Darbyste (Bélgica) – 2,5/5
De cor amarela e turva, apresenta aromas de lúpulo, algo animal, com toque adocicados. Em boca, a acidez predomina, com pouco amargor e estrutura de malte. Tem corpo leve e pouco persistente. Com 5,8% de álcool. R$ 50, 750 ml, na Almada’s Beer Store.

Fantôme (Bélgica) – 1/5
Uma das Saison mais famosas, a amostra da Fantôme, apresentou problemas. De cor alaranjada e turva, tem aroma oxidado, ácido e desagradável, que lembra frutas estragadas. Em boca, é mais ácida do que o esperado, com pouco amargor e sabor de malte, desequilibrado. Não faz jus à cerveja e pode ser um sinal de que as garrafas não viajaram bem da Bélgica ao Brasil. Tem 8% de álcool. R$ 75,91, 750 ml, na Cerveja Store.