10/04/2019 - 22:00
Por Paulo Machado
É muito comum famílias que moram no interior do Brasil viajar vez e outra para ver o mar. Talvez seja o momento mais aguardado do ano, principalmente para as crianças. Uma das lembranças mais saborosas era acompanhar o processo de nascimento das matulas, comidas que seriam levadas para serem consumidas durante a viagem. Na minha casa, era assado frango temperado com pasta de alho e salsinha e, bem sequinho, era misturado à farofa e colocado na lata para ir comendo no caminho. As coxas da ave eram degustadas entre esfarelados biscoitos de polvilho e goles de adocicado refresco de mate gelado, direto de uma térmica vermelha. Que delícia!
Minhas tias Dete e Adelaide, que muitas vezes viajavam conosco para a praia, se incumbiam de levar iguarias que seriam consumidas no próprio local de veraneio. Trazer mantimentos era não só uma forma de economizar na viagem, mas também de manter antigas tradições ligadas à cultura pantaneira. Tia Dete se gabava das almôndegas conservadas em banha numa lata grande e que eram consumidas feito iguaria com macarrão. Outra receita deliciosa era a carne de sol preparada na fazenda, devidamente salgada e que se prestava para o preparo de paçoca, carreteiros e do caribéu. Este último, um guisado com de carne de sol e mandioca, reconfortante e bem típico dos interiores de Minas e Goiás, lembra muito a vaca atolada, porém o corte da proteína bovina é menor e vem sem osso.
Além de boas comidas, nossas viagens também rendiam boas risadas. E como estamos no mês das mães, lembro-me de quando surgiu o apelido de “ursa” para minha mãe, Lúcia. Saímos de Mato Grosso do Sul rumo ao litoral de Santa Catarina e, durante o cochilo de minha mãe, minha irmã mais nova, sentada no banco de trás da caminhonete, reparou que o cabelo dela, amarrado com duas maria-chiquinhas e chacoalhando com o balanço do carro, lembrava um urso. Dona Lúcia, obviamente, não gostou do apelido, e aí que pegou a nova brincadeira. O mau humor só se desfez quando chegamos em Itapema (SC) e ela comeu uma bela pratada de caribéu com arroz bem branquinho, preparado pelas saudosas tias. Esse se tornou o prato preferido da “ursa”.