26/12/2022 - 12:44
Reunir a família em torno da árvore, trocar presentes e compartilhar os quitutes da ceia de Natal é o que muitas pessoas fazem na noite de 24 de dezembro.
Nos últimos 39 anos, foi assim também para mim, mas decidi fazer diferente para visitar parentes e amigos que moram fora do Brasil, na Europa.
Peguei um voo de São Paulo com destino a Londres, na Inglaterra, com conexão em Porto, em Portugal (6h de espera).
Fui surpreendida logo após a descolagem com “nossa ceia”. À escolha do passageiro, havia opção de “peixe ou carne” (pensei nos vegetarianos, mas fiquei sem saber o que comeram).
Fiquei com a carne, que, na verdade, era peru em uma espécie de demi-glace, acompanhada de cenouras cozidas, salada e arroz com passas. Sim, as passas estavam lá e não faltou piada sobre isso. De sobremesa, uma espécie de manjar. Até aí, estava tudo como melhor do que o esperado, exceto pelo pedido de um copinho com vinho.
Segundo a legislação portuguesa, a tripulação pode restringir o consumo de bebidas alcoolicas para passageiros mais, digamos, “alegres”. E, como eu já havia bebido no aeroporto (no bar de espera da Heineken) uma caneca de 1L de cerveja, quase fui penalizada. Além disso, entrei no voo em chamada de vídeo com a minha mãe e isso fez com que eu fosse um pouco mais barulhenta que a maioria dos passageiros.
Então, levantei, fui até as aeromoças e pedi, gentilmente, a oportunidade de harmonizar meu banquete com um bom tinto português. Assim foi. Ufa!
Como acabei cedendo meu assento para que uma criança pudesse dormir deitada ao lado dos pais, ganhei meu primeiro presente de Natal: um upgrade para a área da saída de emergência, com bastante espaço para minhas pernas compridas, onde também era possível ficar em pé com folga para os meus 1,75 m sem me curvar.
Pela manhã, o café da manhã com sanduíche de peito de peru lembrou as boas “sobras” que viram lanchinhos intermináveis na casa da gente durante todo o dia 25 de dezembro.
Chegando ao Aeroporto de Porto, metade dos passageiros que fariam conexão ficou “presa” em uma área para essa finalidade. Como, no domingo, foi feriado, não havia nenhum restaurante aberto e a espera deles não foi tão recompensada como a minha. Isso porque, sem me dar conta, acabei passando pela imigração, o que me deu carimbo com direito a “sair” das dependências do aeroporto – mesmo que não tivesse real intenção de deixar o local. Alguns brasileiros conseguiram, inclusive, ir ao centro da cidade e encontraram um pequeno comércio funcionando.
Encontrei uma cadeira reclinada para espalhar o corpo, onde dormi feliz, em uma área de descanso. Ao acordar, sem saber que os demais passageiros não tinham tido a mesma sorte, passeei pra lá e pra cá puxando minha malinha de rodinhas.
Conheci as delícias do aeroporto de Porto, como as conservas de peixes e frutos do mar em latinhas (tinha até sardinha com flocos de ouro) e os doces de gemas sem limite dos patrícios.
Na hora de partir, finalmente, para a “terra da rainha”, quer dizer, do rei Charles, um blá-blá-blá me colocou a par das demais experiências naquele período entre voos. Alguns revoltados, outros nem tanto. No fim, todos nos tornamos mais barulhentos.
A conversa no segundo voo durou cerca de 2h30 regada a água grátis (todo o resto era pago, e em cartão de crédito, apenas), o que nos aproximou rumo ao destino final.
Trocamos contatos e dicas de compras. Afinal, 26 de dezembro, é Boxing Day, o dia da pechincha da Grã-Bretanha e Irlanda. Esse foi o segundo presente do Papai Noel, com certeza.
Por último, ao pisar em solo inglês, descobri que os transportes públicos estavam parados por motivo de greve (como se a greve dos aeronautas brasileiros fosse nossa única preocupação, vai vendo). Então, ganhei o terceiro presente: minha prima Fernanda e o marido dela, Juliano, foram me buscar de carro. Salvei R$ 700 reais de Uber (eles pagaram R$ 35 de estacionamento).
E, assim, abracei a parte da família que não via há anos e comecei a fazer planos para a ceia do Réveillon, que, desta vez, vai ser em terra.
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(*) Da redação Menu