Engana-se quem acredita que vinhos só podem ser harmonizados com refeições completas ou canapés de festa. A bebida também é uma excelente alternativa para acompanhar os petiscos de boteco e, para facilitar o entendimento de como fazer as melhores harmonizações, Thamirys Schneider, sommelière da Wine, compartilha dicas de harmonização.

 “O vinho tem boa estrutura para acompanhar diferentes petiscos, além de existir em diversos sabores e  estilos, que ajudam a combinar com facilidade as variedades desses aperitivos aclamados pelos brasileiros”, diz Schneider.

Torresmo

Presente na maioria dos botecos brasileiros, o torresmo pode vir em rolo, barriguinha ou pururuca. Em todas essas opções, a gordura é bastante presente no petisco.

“Para que a harmonização seja perfeita, é preciso que o vinho tenha uma acidez acentuada, pois a acidez ajuda a limpar o paladar. Ao escolher vinhos tintos, opte por variedades mais jovens, frutadas, com taninos mais discretos e acidez vibrante”, recomenda a sommelière.

Os vinhos brancos também são excelentes opções para harmonizar com torresmo, desde que tenham acidez vibrante. Além de trazer frescor para harmonização, vão limpar a gordura que fica no paladar.

Outra dica é optar por opções com mais estrutura, para não serem atropelados pelo torresmo. Uvas brancas como Riesling, Sauvignon Blanc, Albariño (Alvarinho), Arinto, Grüner Veltliner, Loureiro e Pinot Gris são ótimas opções.

Uma sugestão de harmonização é o português, da região do Vinho Verde, Casa de Vila Verde Loureiro D.O.C. Vinho Verde 2022. Exemplar mais estruturado, que amadureceu cinco meses em tanques de aço inox justamente para exaltar seu caráter frutado e seu frescor. Um vinho com acidez vibrante, bastante refrescante e com final longo e agradável.

Frango à passarinho

O frango à passarinho é outro prato com bastante gordura, sendo assim, é necessário que o vinho – seja ele branco, rosé ou tinto –  tenha boa acidez para limpar o paladar. O melhor é apostar em tintos mais jovens e leves, como os elaborados com a uva Pinot Noir, como também vinhos brancos com mais corpo e boa acidez, como com a uva Chardonnay e Viognier.

“Este é um prato que combina com diferentes estilos de vinho, todavia, é importante que sejam vinhos mais jovens, leves e frutados, para que suas características não atropelem o prato. Um vinho tinto com muita barrica, por exemplo, pode atropelar o frango à passarinho”, diz a especialista.

Para seguir nessa característica versátil do prato, uma boa dica são os espumantes rosés, vinhos versáteis que acompanham bem diferentes tipos de harmonizações. Um bom exemplo é o chileno Espumante Dancing Flame Rosé Brut, que por ser elaborado com as uvas Pinot Noir e Chardonnay, é bastante frutado, com leve cremosidade e muita refrescância.

Bolinho de bacalhau

Este petisco faz muito sucesso não só nos botecos, mas também é oferecido como entrada em restaurantes. Por se tratar de uma fritura, vale a pena garantir um vinho com boa acidez. Além disso, nesta receita, o bacalhau está desfiado e junto com temperos verdes frescos, o que faz com que a melhor harmonização seja feita com vinhos brancos, rosés e espumantes.

“Para compor esta harmonização, a sugestão é priorizar vinhos leves, com destaque para os espumantes e os vinhos que integram a Denominação de Origem Vinho Verde (D.O.C. Vinho Verde), pois eles têm a acidez como uma das principais características”, sugere a sommelière.

Para esta harmonização, a sugestão é o chileno Espumante Puntí Ferrer Xtra D.O Valle de Rapel Extra Brut, que fará uma combinação agradável com facilidade. Elaborado com a uva Chardonnay, este espumante amadurece lentamente em tanques de aço inox, concentrando aromas e sabores e preservando sua acidez natural.

Através do Método Charmat de produção, quando a segunda fermentação do vinho acontece em tanques de aço inox, a acidez é ainda mais valorizada, tornando-se a alma das borbulhas cremosas e persistentes.

Linguiça calabresa acebolada

Este petisco rápido e bastante presente nos botecos, tem sabor mais forte e até mesmo uma leve picância. Por isso, é importante escolher um vinho que tenha mais estrutura, preferencialmente um vinho tinto com boa concentração frutada, corpo médio, taninos mais integrados e acidez média. Os exemplares elaborados com as uvas Merlot, Cabernet Sauvignon e um Malbec farão uma boa companhia.

“Se a calabresa estiver muito picante, é preciso se atentar ao teor alcoólico do vinho, assim como a presença tânica. Geralmente, quando com boa presença de álcool e taninos mais marcados, a picância do prato fica mais perceptível e isso pode gerar uma experiência desagradável”, comenta a sommelière da Wine.

Para ter uma combinação mais harmônica, opte por um vinho tinto de corpo e álcool médio e, se possível, com final de boca com um toque de dulçor para contrastar com a picância e deixar a experiência ainda mais agradável. O argentino Finca Las Moras Dadá Nº 1 Art Wine 2021 é um exemplar que atende a essas características. Elaborado com as uvas Malbec e Bonarda, teve breve passagem por carvalho para agregar estrutura e acentuar notas como de especiarias e baunilha. Um vinho suculento, de corpo médio, com taninos macios e com boa concentração frutada.

Coxinha 

É quase uma unanimidade: os brasileiros amam a coxinha! Essa fritura é muito querida, seja ela de frango, frango com queijo, camarão, ou até mesmo as versões veganas e vegetarianas. Como também se trata de uma fritura, é mais agradável consumi-la com um vinho com boa acidez e frescor. Vinhos leves brancos, rosés e espumantes, principalmente os elaborados pelo Método Charmat, serão excelentes escolhas.

Uma boa opção são os vinhos brancos elaborados com a uva Sauvignon Blanc, pois são mais leves e têm caráter extremamente refrescante. O U by Undurraga Valle Central Sauvignon Blanc 2021 harmoniza bem. Trata-se de um exemplar jovem, frutado e muito refrescante, e deve estar gelado para ser melhor apreciado.