Relacionar mulheres à cozinha não é novidade. Pelo contrário: essa relação sempre foi feita e baseada em um contexto doméstico e de pouca valorização. Hoje, no entanto, a história é diferente.

As mulheres continuam envolvidas nas panelas e receitas, mas não só no operacional, como também na veia empreendedora. Elas passaram a ser a mente por trás de grandes casas de sucesso e inovações no mercado. Em comemoração especial ao Dia das Mulheres, conheça histórias inspiradoras!

Ki-Mukeka de São Paulo é comandado pela terceira geração feminina da família

O Ki-Mukeka (@kimukeka) está recém-chegado São Paulo, mas há quatro décadas já faz parte da culinária baiana em outros estados. A proprietária Sara Morais é da terceira geração da família, e, hoje, comanda a unidade na capital paulista.

Fundado pela avó, Dona Ivone Oliveira, na Bahia, o Ki-Mukeka é um dos restaurantes mais tradicionais e nasceu em 1980 em Cabuçu, balneário de Feira de Santana–BA. Logo depois, dona Ivone abriu mais uma unidade na mesma região, e, em seguida, em Salvador. Com a expansão, os filhos que trabalhavam com ela se dividiram e cada um passou a cuidar de um restaurante.

Em Salvador, o Ki-Mukeka recebeu vários prêmios, inclusive o “Melhor Restaurante do Ano” e o “Melhor Restaurante de Cozinha Baiana”, além de estar sempre entre os indicados nas principais votações do gênero até hoje. A cada nova unidade aberta, era Dona Ivone quem ensinava como cozinhar os pratos que ganharam fama, servir bem a clientela e, também, como cuidar da equipe interna.

Mariscada do Ki-Mukeka/Créditos: Ricardo D’Angelo
Mariscada do Ki-Mukeka/Créditos: Ricardo D’Angelo

Atualmente, são 4 unidades em Salvador (Itapuã, Armação, Pituba e Salvador Shopping), 1 em Lauro de Freitas, 1 em Camaçari, 2 em Feira de Santana, 1 em Brasília e, agora, a décima unidade chega a São Paulo. “Já estamos na terceira geração, com os netos da minha avó assumindo e abrindo novas unidades”, conta Sara, a neta que sempre viveu no mundo gastronômico.

Trabalhou com a mãe, que é dona do restaurante de Camaçari, e com a irmã Ivone – nome em homenagem à avó. Fez faculdade de direito, fez carreira no mundo corporativo, mas diz que chegou o momento de seguir com o negócio da família.

“Sempre tive a meta de trazer o Ki-Mukeka para São Paulo e, agora, o sonho está se concretizando”, comemora Sara, que mora na capital há oito anos. Ela completa: “são 43 anos de existência, proporcionando aos nossos clientes uma saborosa experiência com a culinária baiana. Estamos trazendo um pedacinho da Bahia para São Paulo”, acrescenta a empresária.

O restaurante paulista tem 100 lugares e funciona na Rua Inácio Pereira da Rocha, 422, no bairro de Pinheiros. Seguindo a proposta de trazer um pouco do estado nordestino para a principal cidade do país, a decoração é composta por quadros retratando pontos turísticos de Salvador e, também, adereços que remetem ao território baiano. “Queremos trazer a energia e a boa gastronomia da Bahia para São Paulo”, garante.

O chef é o marido, Thiago Morais, que está por trás de todo preparo do menu, com mais de 10 entradas, 25 pratos principais e em torno de uma dezena de sobremesas. Os carros-chefe serão a moqueca de camarão, o acarajé e o abará, entre as opções salgadas, e a torta búlgara-baiana, entre os doces. Todas as receitas são de família, foram criadas por Dona Ivone e aprimoradas no decorrer dos 43 anos do restaurante.

Rendez-Vous tem duas mulheres por trás do charme parisiense

Desde 2016 quem visita a região de Pinheiros, em São Paulo, tem o local perfeito para degustar desde o café da manhã até o jantar: o Rendez-Vous (@rendezvous.bistro), bistrô que traz o charme e os sabores da Cidade Luz para a esquina da Fradique Coutinho com a Arthur de Azevedo, enquanto serve dos famosos brunchs até o happy hour e o jantar – tudo isso sob o comando da chef Adriana Silvério na cozinha. Já nos bastidores, é Vavy Marigo quem cuida dos detalhes para entregar aos clientes um ambiente descontraído e elegante.

“Nos batizamos de A esquina mais charmosa de Pinheiros”, conta Vavy, que entrou para o time da casa em 2018, a fim de fazer uma consultoria, e acabou como sócia proprietária. De lá para cá, o cardápio ganhou mais força, com mais autenticidade e pratos mais sofisticados. “Demos uma atenção especial aos pratos à la carte, investimos em sous vide, charbroiler e outros equipamentos para trazer receitas como filé Chateaubriand e polvo à provençal”, conta Vavy.

Brie Fondant Panè do Rendez-Vous/Créditos: Reprodução/Instagram
Brie Fondant Panè do Rendez-Vous/Créditos: Reprodução/Instagram

Ainda segundo ela, “a nossa inspiração vem dos bistrôs parisienses, que servem refeições para todos os momentos do dia. Pode-se vir para almoçar ou comer uma quiche no meio da tarde. Para tomar o brunch ou curtir happy hour. Servimos pratos rápidos e fartos da cozinha francesa, mas também oferecemos outras receitas mais elaboradas – que têm sido muito bem recebidas pelos clientes e devem ganhar ainda mais espaço no menu” diz.

O ambiente completa a experiência à francesa. Reformado há pouco mais de um ano, ele ficou ainda mais charmoso – e, para os fãs da foto perfeita, instagramável. Inspirado em casas, como o Café de Flore, em Paris, o projeto foi pensado para levar aconchego e contou com o talento da Aghata de Faveri, artista plástica de Santo André, para fazer os grafismos no banheiro e todas as demais papelarias do bistrô.

Trinca Bar & Vermuteria foi aposta pioneira de uma expert em bons drinks

A casa dedicada a esse drinque – o vermute – que, até então, era coadjuvante nos copos, hoje conquista seu espaço a cada dia que passa – está aberta há pouco mais de um ano. Comandada pela expert em drinques Tábata Magarão e seu marido Alexandre Bussab, eles decidiram abrir o Trinca Bar (@trincabar), uma das primeiras vermuterias do país.

“Somos um bar que quase não vende cerveja”, contam eles, orgulhosos do sucesso da seleção de vermutes da casa. A ideia de abrir um endereço dedicado à bebida que, aqui no Brasil, ainda era mais usada na produção de coquetéis do que como protagonista dos copos, veio durante as viagens do casal.

Ale Slash Bussab e Tábata Magarão do Trinca Bar/Créditos: Leo Martins
Ale Slash Bussab e Tábata Magarão do Trinca Bar/Créditos: Leo Martins

Durante a pandemia, testaram suas receitas artesanais. “Depois de mais de 30 testes, criamos três vermutes, um branco, um rose e um tinto, servidos como rótulos da casa”, contam eles, que também têm uma boa seleção de rótulos da Itália, França e Espanha, convidando a viajar pelos sabores.

Mas não é só a bebida que traz o toque artesanal à casa. O menu é todo desenhado pelo filho de Tabata e o ambiente também foi pensado nos mínimos detalhes para levar os comensais a dar uma volta ao mundo.

“O nosso vermute tinto é feito com um Malbec argentino e, por isso, temos uma área mais atlântica, tropical. Já o rose tem referências orientais e fizemos um espaço dedicado a isso”, revela a empreendedora.

Torneira de Vermute da Trinca Bar/Créditos: Leo Martins
Torneira de Vermute da Trinca Bar/Créditos: Leo Martins

Sobre o mercado, Tábata conta que é “como cortar o mato virgem”, porque, com exceção de quem está acostumado a viajar, poucas pessoas estão habituadas a beber vermute. “Muitos associam a bebida com o amargo, por causa do negroni, mas esse sabor vem do bitter. O vermute é uma brincadeira entre o doce, amargo, temperado e seco. Tem um leque muito grande de sabores”, justifica.

Apesar de ainda ser novidade para o grande público, a aposta do casal é que o vermute deverá seguir os mesmos passos do gim. “Vemos esse boom mundial com o que é artesanal”, contam eles que percebem a maioria feminina entre o público do seu bar”, garantem.

Elisa Jardim Cozinha de Verdade

Formada em administração, a goiana inquieta até na forma de falar passou quase 20 anos no mundo da moda. Teve fundição de joias antes de mudar completamente de ramo.

“A minha família sempre teve negócios na área de gastronomia, então não foi completamente do nada, a comida sempre estava por ali, cercando a minha vida, eu só ainda não tinha visto aquilo como negócio”, compartilha Elisa.

Há oito anos, ela abriu na Vila Olímpia o seu primeiro restaurante, o Pannacotta (@pannacotta.cozinhadeverdade), que serve boa comida para os engravatados da região. Com a chegada da pandemia, Elisa teve que pisar no acelerador num projeto que vinha crescendo bem devagar – a sua marca de comida saudável, onde atende por indicação dos mais famosos nutricionistas, nutrólogos, médicos e clínicas de emagrecimentos da cidade, pacientes com as mais diferentes demandas.

“O primeiro atendimento com o cliente é sempre comigo. Eu preciso saber exatamente o que pessoa gosta, o que ela não gosta, e qual o motivo que ela veio. Eu preciso entender tudo porque não importa o motivo, fazer uma dieta é sempre difícil, então eu preciso diminuir as chances de que essa pessoa desista”, complementa ela.

Mesmo pós pandemia, Elisa já conseguiu fazer sua empresa de comida para dietas crescer mais de 1000% e constantemente precisa automatizar processos, repensar embalagens, mas de uma coisa não abre mão – o primeiro contato com o cliente. Outro ponto de destaque da empresa de Elisa é a criatividade dos pratos.

Tahine de Gorgonzola do Panna Cotta por Elisa Jardim/Créditos: Reprodução/Instagram
Tahine de Gorgonzola do Panna Cotta por Elisa Jardim/Créditos: Reprodução/Instagram

“Eu faço estrogonofe que não é exatamente um ‘estrogonofe’, ou um ‘ravioli’ fake e por aí vai. Isso vai deixando as refeições menos monótonas”, completa. Para isso, as referencias vem de grandes chefs. Elisa usa a diversão como trabalho e gasta seu tempo livre frequentando restaurantes da cidade – famosos ou não – em busca de ideias que pode adaptar para o cardápio de seus clientes/pacientes.

“Claro que tudo que penso só é possível graças a cozinha industrial que temos aqui. É diferente de fazer comida em uma cozinha caseira, sem muitos recursos. Então consigo, por exemplo, cozinhar sem usar óleo, apenas usando água”, orgulha-se Elisa.