por Suzana Barelli

O francês Pierre Lurton tem um dos currículos mais invejados do mundo do vinho. Ele é o diretor de enologia do Cheval Blanc, um dos ícones da charmosa Saint Emilion, e do Château D’Yquem, o mais prestigiado vinho de sobremesa de Sauternes, os dois em Bordeaux.

Lurton começou com o Cheval Blanc, vinícola que o contratou em 1991. Na época, Bernard Arnault, o todo poderoso dono do grupo LVMH, ainda não tinha comprado o Cheval, o que faria no final daquela década, e Lurton, safra após safra, ia mostrando sua competência como enólogo deste respeitável château, um dos dois únicos classificados como premier grand cru classe “A” em Saint Emilion.

Com a mudança de donos, Lurton foi mantido no cargo. Em 2004, quando Arnault comprou o Château D’Yquem, o enólogo foi convidado a assumir a enologia da vinícola. Agora não lidava apenas com as uvas tintas cabernet franc e merlot, mas também com as variedades brancas semillon e sauvignon blanc e com a Botrytis cinerea, o fungo que ataca estas uvas e lhe traz complexidade.

Assim, há uma década, este francês apaixonado por veleiros e por riscos, dirige a enologia de dois grandes vinhos, o primeiro no estilo tinto seco e o segundo, um branco de sobremesa. Para completar o currículo, só faltaria a ele elaborar um champanhe – e o grupo LVMH tem em seu portfólio alguns dos mais conceituados espumantes franceses, como Krug e Dom Pérignon, para citar apenas dois.

Mas Lurton descarta. “Uma vez, Henry e Remi Krug me convidaram para fazer o blend. Mas o nível de acidez é muito diferente”, afirma Lurton, em uma brevíssima passagem pelo Brasil – ele passou uma noite por São Paulo, na escala de seu vôo para Mendoza, na Argentina, onde é também responsável pelo Cheval des Andes. “Elaborar vinhos e champanhes são aptidões bem diferentes”, completa ele. E conclui: “se bem que quando um champanhe é genial, ele é um grande vinho”.