por Roberto Fonseca

Sempre que uma cervejaria lança um rótulo maturado em madeira, minha primeira pergunta é: “Mas vocês também terão a cerveja maturada apenas em inox para comparação?” Pode parecer chatice, mas é uma boa forma de comparar as diferenças trazidas pelo processo – e de achar o blend ideal para a própria percepção, se não for ele o já proposto no produto final. A boa notícia é que existem, no mercado, alguns rótulos que permitem a qualquer um realizar esse experimento.

Um deles é produzido pela Bier Nards, de Jundiaí (SP), que recentemente lançou uma versão de sua Weizenbock (chamada Haar) maturada em carvalho norte-americano, carvalho francês e maple, além de canela. Tendo em mãos as versões com e sem madeira, comecei a tentar achar uma combinação em que ainda pudesse perceber a madeira, mas, em primeiro plano, as características frutadas e condimentadas da Weizenbock. Meu ponto ideal foi com cerca de um terço da cerveja em madeira com dois terços que passaram apenas pelo inox.

Como a sensibilidade e as experiências sensoriais de cada um são distintas, um nível aceitável de madeira para uma pessoa pode ser sentido como “suco de serragem” para outra. Em especial por influência de cervejarias norte-americanas, receitas com notas potentes de madeira (e de bebidas que passaram anteriormente por ela) têm conquistado fãs lá e aqui. Além da busca pela estabilidade de um produto ou a medida ideal (do cervejeiro ou do que se espera do consumidor), o blend também serve para criar novos sabores. Nos Estados Unidos, a New Belgium lançou para os consumidores o kit “Blend Like a Brewer”, em que sugerem combinações entre seis cervejas diferentes da marca. No Brasil, além da Bier Nards, é possível fazer blends com cervejas em madeira e inox com outros rótulos, como a Lohn Carvoeira (Imperial Stout com cumaru e funghi secchi, que tem versão maturada em amburana e carvalho) e a Barleywine da mesma marca. A paulistana Trilha lançou uma versão de sua Barleywine Status Quo maturada em barril carvalho norte-americano pelo qual havia passado Bourbon. Também há no mercado uma versão sem barril, com chips de carvalho francês, que aparecem de forma mais discreta no conjunto.

Estou bebendo – Zalaz Carvalho e Café
A Porter de 7% de teor alcoólico produzida pela cervejaria mineira tem como destaque a presença moderada mas perceptível de madeira, resultado de um blend. Café e frutas escuras complementam aroma e sabor. Custa R$ 34 (500 ml) no Empório Alto de Pinheiros.