por Cintia Oliveira 

Nesta quinta (9), estreia nos cinemas brasileiros o filme Fome de Poder, estrelado por Michael Keaton, que narra os primeiros passos da criação da rede de lanchonetes McDonald’s. Baseado numa história real, o longa dirigido por John Lee Hancock (de Um Sonho Possível) conta a história de Ray Kroc (Michael Keaton), um vendedor de máquinas de milk-shake de meia idade que, certo dia, se depara com um grande pedido de máquinas para uma pequena lanchonete em San Bernardino, no norte da Califórnia (EUA).

Curioso pelo comprador, ele vai até lá se depara com a lanchonete criada pelos irmãos Mac e Dick McDonald (John Carooll Lynch e Nick Offerman, respectivamente). E se encanta pelo sistema inovador, que consegue produzir e entregar aos clientes hambúrgueres perfeitos (da era pré-big mac), preparados por uma equipe incansavelmente coreografada por Dick, em nada menos que 30 segundosDe cara, Kroc enxerga na franquia do sistema uma possibilidade única de negócios.

Com o sonho de expandir seu projeto, os irmãos se unem a ele. E, a partir daí, o filme se transforma numa constante queda de braço. De um lado, os irmãos não querem perder a qualidade de seus produtos (nesta época, a lanchonete não lembra em nada a rede que já foi acusada inúmeras vezes de propagar a obesidade nos EUA), do outro o empresário não vê nenhum problema em substituir os sorvetes utilizados no preparo dos milk-shakes por uma versão em pó, muito mais barata – e artificial.

Embora o filme retrate a persistência do protagonista, que até conhecer os irmãos McDonald colecionou fracassos na vida profissional, hipotecou a sua própria casa e investiu tudo que tinha para transformar a pequena lanchonete num verdade império, o longa deixa um sabor amargo, graças a obsessão do personagem pelo sucesso a qualquer custo.

Desprovido de crise de consciência (“negócios são como a guerra”, diz Kroc), ao longo do filme ele larga a esposa de longa data para se casar com a mulher mais jovem de um de seus franqueados, tira a empresa das mãos dos irmãos ao adquirir os terrenos onde são construídos os McDonald’s, e ao comprar a empresa dos irmãos por um valor muito baixo, e com a promessa de pagar os royalties pelo uso do sobrenome (o que nunca aconteceu), tenta apagar os primeiros capítulos do McDonald’s ao se intitular fundador.

Keaton se sai muito bem no papel de Kroc e traz o magnetismo digno de um homem de negócios, o que desperta amor e ódio com a mesma intensidade no espectador. John Carooll Lynch e Nick Offerman também se saem muito bem na pele dos irmãos – apesar de que a ingenuidade de ambos beira o irritante.

Ao sair do cinema, a vontade que se tem é a de ir ao McDonald’s, mas não uma das 35 mil lojas espalhadas pelo mundo, mas sim naquela pequena lanchonete criado pelos irmãos McDonald na década de 1950, onde o hambúrguer era feito com carne de verdade, o milk-shake era de sorvete de chocolate e o Ronald McDonald’s (o icônico palhaço que é garoto-propaganda da lanchonete) ainda não existia – eram irmãos bonachões que recebiam a todos de braços abertos.