por Suzana Barelli

Aos 32 anos, a jovem portuguesa Francisca Van Zeller parece ter encontrado seu espaço no mundo do vinho, mesmo depois da venda da pequena e conceituada vinícola de sua família, a Quinta Vale D. Maria, para o grande grupo vinícola Aveleda em 2017. Mais do que isso: de responsável pela comunicação e marketing da empresa familiar, no Douro, Francisca soube conquistar o seu espaço na nova companhia. Dois anos depois desta transação, ela representa as marcas premium de todo o grupo Aveleda com muita propriedade.

Em recente passagem por São Paulo, por exemplo, Francisca contou do trabalho da Aveleda em busca de qualidade. Originária da região dos Vinhos Verdes, no Norte de Portugal, a vinícola da família Guedes é mais conhecida pelo volume de produção e pela linha de vinhos Casal Garcia. Com a chegada da Quinta da D. Maria a seu portfolio, abriu-se um canal no segmento de alta gama, onde Francisca atua principalmente. Nestes novos planos, conta Francisca, estão os vinhos na Bairrada, da Quinta D’Aguieira, que serão relançados este ano. Em 2020, será a vez da nova linha de vinhos que valorize os diferentes solos e uvas da região de Vinho Verde, como a alvarinho e a loureiro. “Vai ser uma gama de vinhos diferentes, um projeto novo, focado”, conta ela.

Nascida no mundo do vinho (quando menina, sua família era dona da mítica Quinta do Noval) e com um vinhedo para chamar de seu (quando fez 18 anos, seu pai batizou uma nova vinha com o seu nome), Francisca conseguiu conquistar seu espaço por méritos. “Dez anos atrás, eu tinha de enfrentar muitas barreiras. Muitos me viam como se eu fosse apenas a herdeira de um vinhedo e não a proprietária de conhecimento”, conta ela. Formada em jornalismo e com especialização em enologia, ela lembra que ainda não faz muito tempo em que era preciso ter um homem para uma reunião de trabalho ser frutífera.

Nesta trajetória, ela também sentiu necessidade de participar de um grupo de mulheres atuantes no mundo do vinho. O D’Uva nasceu desta inquietude feminina em 2014. Primeiro, o grupo que conta com a participação de sete outras mulheres, como Catarina Vieria, da Herdade do Rocim, e Luiza Amorin, das cortiças que levam o sobrenome da família, nasceu com o objetivo de promover, no mercado internacional, os vinhos de diferentes regiões de Portugal.

Atualmente, conta Francisca, o D’Uva está em uma “fase embriônica”, de formação interna. Ou seja, elas se reúnem a cada dois meses com o objetivo de estudarem e compartilharem o conhecimento que cada uma vem adquirindo com o seu trabalho. “A Catarina tem um trabalho bem interessante de uso da água nas vinícolas”, cita Francisca, entre outros exemplos. É a troca de experiências e aprendizados que torna o grupo mais completo nesta saudável união feminina.