11/06/2014 - 20:50
Por Suzana Barelli
O mundo do vinho nos apresenta pessoas que jamais sonhamos em conhecer. Eu, por exemplo, sempre achei que conheceria apenas a voz – e a empolgação – do narrador esportivo Galvão Bueno. Mas já tive a chance de almoçar com ele por duas vezes e de encontrá-lo outras tantas em feiras de vinho. Não que eu seja uma fã incondicional do futebol, mas porque o narrador decidiu investir parte do seu salário na produção de vinhos.
Agora, para mim, é inevitável não pensar nos vinhos de Galvão quando escuto sua voz narrando as partidas de futebol – o que deve acontecer muitas vezes nestas próximas semanas. Penso também na mudança de Galvão nestes poucos anos no mundo de Baco.
Quatro ou cinco anos atrás, Ingo Ostrovsky, o assessor de Galvão, decidiu fazer um almoço para que o narrador conhecesse os jornalistas especializados em vinho. Galvão já tinha lançado um vinho tinto, em parceria com a Miolo, e começava a se interessar mais pelo tema. O almoço foi em um restaurante bem na rota do aeroporto de Congonhas (que fazia um barulhão), em Moema, e Galvão atrasou um bocado.
No almoço, simpaticíssimo, o narrador falou muito (ele sempre é o centro das atenções com a sua eloquência) e mostrou pouco conhecimento com o tema. Lembro que ele contou que queria fazer um sauvignon blanc naquela mesma safra, com passagem em barricas de carvalho. Eu me achei meio petulante, mas comentei que era impossível fazer um branco naquele perfil e lançá-lo já naquele ano, que o vinho precisa de tempo para amadurecer no carvalho. Hoje, a linha Bueno conta com um sauvignon blanc, de bom frescor, sem passagem por barricas de carvalho.
O segundo almoço com Galvão aconteceu no início deste ano, no lançamento dos seus brunellos di Montalcino, elaborados em parceria com o expert Roberto Cipresso. Galvão já era outro – continua falante e é o centro das atenções, mas tem muito mais desenvoltura com os vinhos. Neste período, ele se tornou sócio da Miolo, uma das maiores vinícolas brasileiras; viu crescer seu próprio projeto de vinhos, a fazenda Bellavista, na região da Campanha gaúcha; e a linha dos vinhos batizada de Bueno. Atualmente, além dos rótulos italianos, ele tem o Paralelo 31 (um blend de cabernet sauvignon, merlot e petit verdot), um pinot noir, o sauvignon blanc e um espumante.
Seu brunello é muito bom (poderia ter um preço mais acessível) e eu gosto dos seus vinhos brasileiros. E Galvão transformou Cipresso em assessor de sua vinícola brasileira (tem o cargo de diretor técnico), o que indica que a qualidade destes brancos e tintos tende a melhorar mais. O italiano também dá palpites na Miolo, numa clara indicação da influência crescente de Galvão também neste mundo.
Ah! E neste segundo almoço, Galvão chegou no horário, mas saiu correndo porque tinha de pegar o avião para a África do Sul, onde narraria o amistoso da nossa seleção. O Brasil ganhou de 5 a 0 dos sul-africanos, um placar que bem que poderia se repetir nesta abertura da Copa.