Dono de boulangerie (“padaria”, em francês) em Petrolina, Pernambuco, o influenciador e ex-estudante do Le Cordon Bleu Paris Glauber Britto conta em entrevista exclusiva à Revista Menu  sobre a união gastronômica ‘Nordeste-França’ e comenta ainda sobre quais foram os maiores desafios e escolhas para a abertura de seu espaço.

Inspirado por uma passagem de férias em sua terra natal, o chef baiano resolveu abrir seu próprio comércio com estilo francês e toques nordestinos na cidade interiorana.

O baiano explica também sobre a abertura e gerenciamento de seu restaurante, Odara, e ressalta a importância das influências nordestinas na gastronomia nacional.

“É uma oferta que eu fiz para a cidade, tudo o que eu aprendi vou dividir com os outros e também aprender com o que eles têm para me ensinar.”

A escolha da construção do local veio do aprendizado que teve durante sua época como aluno do instituto internacional gastronômico. “Na França, você só pode ter esse nome de ‘boulangerie’ se você trabalha com pães de fermentação natural, senão você é qualquer outro comércio lá”, explica.

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União nordestina-francesa

Sobre as barreiras encontradas na abertura do lugar – que aconteceu recentemente, em 11 de fevereiro – o chef conta que as maiores questões estavam ligadas à chegada de insumos na região, já que a maioria de distribuidores está localizada no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

Os impostos altos e o tempo longo para a chegada forçaram a equipe a usufruir diretamente dos ingredientes produzidos no estado.

“Para não ter problemas maiores com isso, peguei elementos da terra, já que estamos numa região de fartura de frutas – Petrolina planta muito, além de ter vários tipos. Fiz essa adaptação para o meu cardápio para que pudéssemos não ter falta de ingredientes e entregar algo completo”, conta.

Ainda nos comentários sobre a execução do restaurante, o cozinheiro exemplifica que os pães e massas de fermentação natural e os doces produzidos sem a adição de leite condensado e quantidades grandes de açúcar marcam o diferencial da Odara em comparação a outras padarias.

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Valorização nacional

Durante todos os eventos e promoções do espaço e de seus pratos, o chef sempre reforça com ênfase como a falta de um olhar gastronômico para o Nordeste pode ser prejudicial.

No começo da idealização e do funcionamento da Odara, ele conta que questionou se realmente seria possível, mas decidiu seguir com o projeto justificando que “quando você senta e bota sua criatividade para fora, você consegue fazer isso”.

“Não podemos esperar que você tenha que viajar para São Paulo ou para o Rio de Janeiro para que você desfrute determinadas culinárias. O meu projeto é levar o formato da boulangerie francesa para a Petrolina para que as pessoas não precisem pegar um avião, passear em outro estado para poder desfrutar disso”, completa.

Ele também conta que, atualmente, um de seus maiores objetivos é mostrar para o público e para outros cozinheiros que o estilo arquitetônico e gastronômico da Odara já existem em alguns lugares do Nordeste, mas que a quantidade ainda não é suficiente.

“Os chefs precisam se desafiar, o público vai aceitar, provavelmente vai demorar um pouco a entender, mas vai aceitar e se acostumar.”

Relação entre o lado influenciador e o cozinheiro

Como membro ativo das redes sociais, principalmente no Instagram, Glauber fala sobre a indispensabilidade de promover o lugar e os produtos na mídia. Outra bandeira muito levantada pelo cozinheiro é a forma sem limites que alguns influenciadores incentivam o desperdício.

“Eu vejo muitos trabalhos de supostos influenciadores que mostram esse grande desperdício de comida na internet e as pessoas aplaudem isso”, pontua.

“Quando você olha ao seu redor e tem pessoas que não têm o salário mínimo, elas não conseguem fazer um supermercado completo. E você vai lá para a internet mostrar um desperdício de comida, eu acho que é uma afronta social”, completa.

Além disso, o chef revela que publica fotos e vídeos de suas viagens com a intenção de mostrar para seus seguidores novos locais e experiências, que alguns podem não ter a chance de viver.

“É uma forma de aproximar as pessoas e dar credibilidade a você como cozinheiro através das redes sociais.”

**Estagiária sob supervisão