02/03/2018 - 20:13
por Suzana Barelli
A inglesa Jancis Robinson é a mulher mais importante do mundo do vinho da atualidade e merece lugar de destaque nesta série em homenagem às mulheres do vinho e suas histórias. Jancisrobinson.com, o site que leva seu nome, é uma das melhores referências para quem quer estar atualizado sobre este segmento tão peculiar. Jornalista, ela foi a primeira mulher, então fora do negócio do vinho, a obter o título de Master of Wine, isso no já distante ano de 1984.
De lá para cá, Jancis conquistou títulos importantes, sempre fruto do seu trabalho – ela, por exemplo, é uma das responsáveis por escolher os vinhos da adega da rainha da Inglaterra, e foi condecorada com o mérito agrícola francês (o currículo completo dela pode ser acessado em seu site).
O mais interessante de sua personalidade, acho eu, é que ela quer, sinceramente, que as pessoas saibam mais de vinhos e, workaholic como é, não pára de escrever sobre isso. Seus livros são ótimos. Há desde publicações mais diretas, indicadas para iniciantes, como o Expert em vinhos em 24 horas (editora Planeta); a estudos de referência como o The Oxford Companion to Wine ou o Wine Grapes, um completo guia com quase 1.400 uvas. Muitos de seus livros já foram traduzidos para o português.
Mas o melhor é que ela é uma pessoa acessível e disposta a dividir seu conhecimento. Convivi bastante com ela em duas situações. Em 2015, participamos juntas do concurso Argentina Wine Awards, que tinha apenas juradas mulheres, de vários cantos do mundo. Tive a sorte de dividir a mesa com ela e com a sommelière argentina Marina Beltrame. Em cada série de vinhos, nós três tínhamos de discutir nossas notas e chegar a um consenso. As ponderações de Jancis foram sempre precisas, mas ela ouvia e concordava (ou discordava) de nossas ponderações. Aprendi muito com ela.
A primeira vez foi em 2007, na quarta edição do evento Prazeres da Mesa Ao Vivo. Fui escalada para ser a cicerone dela e de seu marido, Nick Lander, nos três ou quatro dias que passaram por São Paulo. E, nesta época, a melhor história foi um almoço no restaurante Mocotó, na época ainda não tão badalado. A ideia era provar vinhos brasileiros em companhia do jornalista Luiz Horta, que faria (e fez) uma reportagem para o caderno Paladar, publicação de gastronomia de O Estado de S.Paulo.
Os dois ingleses se encantaram com a comida da casa, a começar pelo caldinho de mocofava. Até lembrei de levar taças de vinho para o almoço (e acertei porque realmente não tinha por lá). Mas esqueci do saca-rolha, que também não tinha. Foi preciso pegar emprestado no bar ao lado. E, em nenhum momento, o casal de incomodou com esta improvisação, muito pelo contrário. Aproveitou a comida (acho que Lander provou o cardápio todo…), dividiu os comentários do vinhos, escolhidos pelo Horta, e a reportagem está até hoje estampada na parede do restaurante (para meu orgulho).