Por Roberto Fonseca

Existe mais de uma centena de estilos de cerveja formalmente catalogados – as duas principais fontes de consulta são os guias da Brewers Association (BA) e do Beer Judge Certification Program (BJCP), ambas dos EUA. Isso não impede que, de tempos em tempos, os guias sejam atualizados com novas tendências que se consolidam e ocupam boa parte das atenções – e dos copos.

Foi o caso das New England ou Juicy IPAs, que em pouco tempo entraram no guia da BA em 2018. No Brasil, o surgimento de uma denominação regional desencadeou uma discussão sobre a possibilidade de um estilo nacional, com posições acirradas.
Um grupo de cervejeiros de Santa Catarina começou, há cerca de dois anos, a usar a denominação Catharina Sour para designar cervejas do estilo Berliner Weiss – de origem alemã, ácida – que tivessem frutas na composição. A Catharina tem, ainda, limite de teor alcoólico mais elevado que as Berliners. Os produtores afirmam que a ideia não era criar um estilo, e sim facilitar o entendimento do consumidor sobre o que era a cerveja. Chamá-la de Berliner Weisse, por exemplo, induzia o leigo a achar que se tratava de uma cerveja de trigo, ou “Weizen”, com a consequente surpresa negativa.

Críticos da denominação alegam que não há novidade em criar uma Berliner Weisse com frutas e que, antes das Catharinas, apareceu nos Estados Unidos a Florida Weisse, com parâmetros similares. Mas um dos “papas” do BJCP, Gordon Strong, publicou um texto com argumentos técnicos que conferem à Catharina Sour aspectos próprios, como o uso de frutas frescas e o processo de acidificação da cerveja.

Se, na teoria, a questão ainda não tem resposta clara, no copo as diferenças são perceptíveis. Em um experimento caseiro, reuni três cervejas ácidas com maracujá, sendo uma delas denominada Catharina Sour (da Cervejaria Blumenau; as outras duas eram a Mafiosa A Noiva II, uma Gose com maracujá e dry hopping, e a Berliner Weisse com maracujá da Tupiniquim). No teste às cegas, a Blumenau aparentou ter muito mais fruta em primeiro plano, com acidez coadjuvante. A Mafiosa teve relação contrária e a Tupiniquim mostrou notas mais apagadas de fruta e acidez. Resultado: acertei a Catharina Sour.
Discussões à parte, sempre é interessante ver novas ideias de aproximar a cerveja do público iniciante, independente de terem como meta a formalização de um estilo. Mas, se muitas pessoas a passarem a chamar a cerveja por um mesmo nome, quem sabe?