08/03/2019 - 15:00
Por Suzana Barelli
Você já provou o cabernet franc da Marina? E foi assim, à procura do vinho sensação da feira Naturebas, algumas edições atrás, que conheci a enóloga brasileira Marina Santos, da Vinha Unna. Enfrentei a fila de consumidores que queriam degustar este vinho, até conseguir uma dose do cabernet franc. No primeiro gole, já me surpreendi. É um cabernet franc diferente, digamos assim, mais leve, na cor e no corpo, de aromas muito limpos, uma nota de especiaria, persistente, único. Merecia toda a fama que conquistou naquele evento e nos seguintes. Foi batizado de As Baccantes, com um rótulo lindo (e feminino), de mulheres e vinho, desenhado pela própria Marina.
Foi na edição de 2014 da Naturebas, alias, que os vinhos da Marina chegaram ao mercado. Ela decidiu participar da feira para mostrar seus vinhos, de pequeníssima produção, quando este evento, que reúne produtores orgânicos, biodinâmicos e naturais ainda acontecia na também pequenina Enoteca Saint Vin Saint, em São Paulo (a próxima edição do Naturebas será no último final de semana de junho, na Casa das Caldeiras). O seu projeto de cultivo biodinâmico tinha começado em 2009, na zona rural de Pinto Bandeira, um dos municípios da Serra Gaúcha, e Marina queria opiniões sobre seus vinhos. Nem tinha calculado o preço para as garrafas que levou na mala, o que precisou definir na hora, tamanha a demanda dos presentes para comprar seus vinhos. Vendeu tudo.
De lá para cá, a produção de Marina continuou pequena (são 1,5 hectare de vinhas próprias e mais 1 hectare arrendado), mas a voz da enóloga cresceu. Ela é uma das principais defensoras do cultivo biodinâmico no Brasil e acredita que não é preciso usar produtos químicos mesmo em vinhedos com muita humidade, como os gaúchos. Ela estuda e segue a filosofia de Rudolf Stein, dos preparados biodinâmicos para o cultivo agrícola. E encontrou, nesta prática, um caminho para as questões que a incomodavam desde o tempo da faculdade quando, para passar de ano, tinha de saber como elaborar brancos e tintos de maneira convencional, com leveduras selecionadas, sem espaço para as experiências não tão ortodoxas.
A prática biodinâmica não vale apenas para os seus vinhos. Além dos vinhedos, ela tem com o marido Israel Dedéa um pequeno bistrô, o Champenoise, que só trabalha com produtos cultivados sem agrotóxicos, em Pinto Bandeira, e prima pela qualidade do cardápio.