A safra 2011 do Almaviva, no taste-vin e na taça de cristal (foto: Suzana Barelli)

Por Suzana Barelli

Michel Friu foi logo se desculpando pela taça de vidro. Numa entrevista em um hotel de luxo paulistano, entre um compromisso e outro em sua corrida viagem por São Paulo e Rio de Janeiro nesta semana, o enólogo da chilena Viña Almaviva não tinha dúvidas que a nova safra do seu tinto merecia ser degustada em uma taça mais apropriada. Mas era a que tinha disponível e assim eu fui apresentada a nova safra do Almaviva, a 2011, fruto de um ano de clima muito seco e de maturação tardia das uvas.

A taça de vidro ficou presente em toda a entrevista. Para mim, incomodava o seu bocal mais aberto, que dispersava os aromas rapidamente. Em um dado momento da entrevista, Friu começou a discorrer sobre as taças e levantou um ponto que eu nunca tinha pensado: no passado, se apreciava os vinhos mais por seus gostos do que por seus aromas.

O melhor exemplo está no taste-vin, uma pequena cuia de metal, muitas vezes de prata, que os antigos sommeliers usavam para degustar o vinho antes de servi-lo aos comensais. Aberta e rasa, nesta “taça” é quase impossível identificar os aromas do vinho. Vale o sabor e persistência em boca. É o oposto do mundo moderno, onde reinam as taças, sempre de cristal, grandes e com a borda levemente fechada. Nelas, são o aroma e o visual da bebida que mandam na degustação.

Terminada a entrevista, Friu me ofereceu o restante da garrafa para trazer para casa. Aceitei e advinha o que eu fiz? Servi o vinho em um pequeno taste-vin e numa taça de cristal e me propus a entendê-lo. Pareciam dois vinhos diferentes – o que prova que Georg Riedel é mesmo um visionário, com os seus formatos de taças para cada estilo vinho. No taste-vin, o Almaviva me parecia um vinho sem personalidade, sem o seu nariz complexo. No paladar, era encorpado, denso, mas sem a elegância que lhe é característica. Numa prova às cegas, eu ficaria a milhas de distância de dizer que poderia ser o tinto elaborado no Chile, fruto da parceria da francesa Baron Philippe de Rothschild e da andina Concha Y Toro.

Na taça correta, era outro tinto, com suas notas de cassis e de frutos vermelhos e aquele final mais de cacau, de notas tostadas. Encorpado em boca, estava ainda muito jovem, mas com um frescor e uma elegância bem interessante.

Na safra de 2011, o Almaviva é um corte de 67% de cabernet sauvignon, 25% de carménére, 5% de cabernet franc, 2% de merlot e 1% de petit verdot. É vendido por cerca de R$ 600. E eu aconselho bebê-lo numa taça grande, de cristal.