Por Beatriz Marques

A magnitude do evento Mistura, feira de gastronomia que só no ano passado reuniu mais de 400 mil pessoas na capital peruana, foi possível graças à união de esforços da Apega (Sociedade Peruana de Gastronomia). A associação, fundada pelo renomado chef Gaston Acúrio, também é responsável por dialogar com o governo e conseguir apoio para difundir a cozinha peruana mundo afora.

De olho nos resultados positivos do nosso vizinho, a Abaga (Associação Brasileira da Alta Gastronomia) também começa a dar passos mais largos para se fortificar e ter voz ativa no País.

O presidente da associação, o chef João Leme, do restaurante La Table, em Balneário Camboriú (SC), convocou vários cozinheiros que não participam da Abaga para discutir os rumos da gastronomia no País. “Nossa profissão nem é regulamentada pelo governo”, lamenta Leme. Entre os participantes das reuniões semanais, que começaram há poucos meses, estão Alex Atala (D.O.M.), Laurent Suaudeau (Escola de Artes Laurent), Christophe Besse (All Seasons), David Jobert (hotel InterContinental) e Alberto Landgraf (Epice).

A primeira mudança já é notada no nome. A Abaga foi extinta para dar lugar ao APC Brasil (Associação dos Profissionais de Cozinha do Brasil). E novos projetos estão por vir. “Queremos dar a formação a jovens carentes que não podem pagar faculdade de gastronomia”, conta Leme. A ideia é que cada chef associado adote um aluno e que este receba alguma ajuda de custo, vinda da iniciativa privada ou do governo.

“A visão da Abaga era elitista, onde só entravam os chefs com 10 anos de experiência em restaurantes de alta gastronomia”, conta Leme, que há 3 anos preside a associação. “O estudante não era acolhido quando mais precisava. E depois de 10 anos de profissão, não tinha mais interesse em ser membro”, completa.

Hoje qualquer profissional da cozinha pode participar da APC Brasil, para a qual paga R$ 150 a semestralidade. A matrícula de R$ 200, que dá direito a um jaleco, agora é opcional. “Temos um projeto para não cobrarmos mais a semestralidade de quem não puder pagar”, diz Leme.

A mudança também ocorre na implementação de diretorias regionais, com um representante em cada Estado, para intensificar a troca de informações por todo o Brasil. “Estamos no momento de formação de uma gastronomia brasileira. Temos várias culturas, que mudam em cada região. Vamos colocar os diretores para compartilhar esses conhecimentos”, explica.

E a nova APC Brasil sonha com uma feira e um congresso próprios. “Hoje dependemos de eventos de terceiros e temos que abrir nossas discussões para outros meios”. São os cozinheiros brasileiros procurando seu espaço e sua representatividade, não só na gastronomia brasileira, como na mundial.