por Suzana Barelli

Hoje, a vinícola Catena Zapata é um nome que dispensa apresentações para quem acompanha os vinhos argentinos. A construção de sua marca no Brasil se deve não apenas à qualidade de seus brancos e tintos, mas também a uma afinada parceria entre Nicolás Catena, da terceira geração desta família de vinicultores argentinos, e Ciro Lilla, o dono da brasileira Mistral. Vinte cinco anos atrás, em 1993, Lilla provou os vinhos na Vinexpo, importante feira de produtores em Bordeaux e, no mesmo momento, pediu para ser o seu importador no Brasil, numa relação que dura até hoje.

O primeiro contrato de importação foi definido nessa conversa e seus pontos principais foram escritos em um pedaço de papel. “Até hoje, não temos um contrato assinado”, conta Lilla. Os 25 anos de parceria foram comemorados na segunda-feira passada (22), com um jantar no Jockey Club de São Paulo, para duas centenas de donos de restaurante e especialistas em vinho.

Na noite, brilharam o discurso emocionado de Nicolás e, como não poderia deixar de ser, também os vinhos. Primeiro, foram dois brancos, elaborados com a uva chardonnay em vinhedos de altitude, a quase 1.500 metros de altura do nível do mar. Angelica Zapata Chardonnay 2013 (US$ 46,90 + IPI) e Catena Alta Chardonnay 2013 (US$ 56,90 + IPI), os dois sedosos, longos, e o segundo com um frescor maior.

Foram os tintos, no entanto, que mais surpreenderam: os vinhos foram escolhidos da adega privada da família argentina e trazidos para o Brasil. Os dois primeiros tintos, o Catena Alta Cabernet Sauvignon 2001 (a Mistral vende a safra 2012, por US$ 75,50 + IPI) e o Catena Alta Malbec 1995 (safra 2012 e 2013, por US$ 84,90 + IPI, cada) trouxeram algumas lições na taça. Primeiro que, já na década de 1990, no começo da chamada revolução e busca de qualidade dos vinhos argentinos, os tintos tinham o potencial de envelhecer bem. Mesmo com toda a fruta madura e o uso, às vezes excessivo, das barricas de carvalho que marcavam este estilo de elaboração, a bebida tinha qualidade para evoluir bem na garrafa. Os dois foram ganhando o chamado bouquet, com notas de couro, tabaco e, no malbec, também um tanino muito, muito sedoso.

A qualidade do malbec, confesso, me surpreendeu. E este é o segundo ponto. Até achei até que tinha uma porcentagem de outra uva no blend, que poderia tornar o vinho mais complexo. Aproveitei para perguntar para Nicolás, que também se disse surpreso com a persistência do vinho e garantiu ser um 100% malbec. Chama a atenção porque no início da história moderna da Catena (foi Nicolás quem decidiu mudar a proposta da empresa familiar, então focada em volume, para vinhos de qualidade), a vinícola tinha um foco muito mais forte na cabernet sauvignon do que na malbec.

Dava quase a impressão que a malbec soube se impor por sua qualidade – e aqui, se deve muito ao trabalho de investigação, liderado por Laura Catena, a filha mais velha de Nicolás. Fica a pergunta: se aquele malbec de 1995 soube evoluir tão bem, o que serão dos malbecs atuais, moldados por Alejandro Vigil e equipe? Hoje, o conhecimento do terroir é tão maior, as vinhas são mais velhas, com raízes mais profundas. E há outros vinhedos, plantados cada vez mais altos. Há que se surpreender.

O último tinto foi o Nicolás Catena 2001, um corte de cabernet sauvignon e malbec, servido em garrafas magnum (US$ 335 + IPI, na garrafa de 750 ml). Provas às cegas mostram que a magnum é o melhor recipiente para um vinho envelhecer, pela sua relação de líquido e oxigênio dentro da garrafa. Na taça, se mostrou um vinho bem complexo, também com o bouquet de evolução, persistente, elegante. Em apresentações internacionais, este vinho a se sair melhor do que os grandes chateaux de Bordeaux. A ocasião pedia estes vinhos. Ainda bem!