Por Paulo Machado

Depois de várias colunas compartilhando minhas experiências ao levar a cozinha brasileira para o exterior, agora deixarei aqui o registro de pratos e ingredientes ainda pouco conhecidos por nós – ainda podemos dizer que existem territórios e regiões do país que são “terras estrangeiras” para os brasileiros.

Uma das descobertas mais marcantes para mim aconteceu em 2008, quando estive pela primeira vez em Pirenópolis, cidade de Goiás tombada pelo patrimônio nacional. Fui à cidade em busca de descanso e, claro, conhecer a culinária local. E me indicaram uma visita à Fazenda Babilônia, na zona rural da cidade.

De árvores carregadas de frutas, com animais,moinho, alambique e um enorme casarão do século 18, a fazenda também atrai pelo café da manhã sertanejo, oferecido nos fins de semana e feriados, com mais de 40 itens. É de se deliciar com doces e salgados como quebrador (biscoito doce), bolinho da senzala (de fubá de canjica e garapa, assado na folha de bananeira), mané pelado (bolo de mandioca ralada e coco), matula de galinha, carne moída envolta em crépine de porco (rendanho), brevidades…enfim, uma fartura que deixou o leite gordo e o café como meros coadjuvantes.

Mas uma das coisas mais impressionantes que provei na Babilônia foi o pau-a-pique, uma variação do beiju, tipicamente indígena, feito com massa de mandioca seca, queijo ralado, coco, ovos e manteiga, depois assado envolto em folha de bananeira. Uma iguaria que remonta às épocas do Brasil Colônia e que também pode ser feita com canjica de fubá, como na receita que aprendi com o chef Gilmar Borges e que em Minas Gerais recebe o nome curioso de joão deitado.

Toda aquela comida faz mais sentido com a doce explicação, quase poética, da dona da casa, Telma Lopes, que faz questão de demonstrar na prática que está ali para salvaguardar o saber cultural de receitas ancestrais, muitas passadas a ela por sua família. Ela profere nos olhos a mensagem com muito orgulho de que, sem dúvida, nossa gastronomia não fica atrás de nenhuma outra do planeta.

Quando volto à saudosa “Piri”, visito de novo a Fazenda Babilônia e me alegro ao ver aquelas compridas mesas de madeira sempre cheias de visitantes das mais variadas partes do mundo, que partem levando a cozinha brasileira no gosto e na memória.

Fazenda Babilônia
rodovia GO 431, Km 3
(62) 99294-1805 – Pirenópolis (GO)
fazendababilonia.com.br